De Bebiana a Sérgio Moro, foram oito ministros lançados na sarjeta bolsonarista. E o modo de apontar a porta de saída vem sempre acompanhado de requintes de crueldade. Primeiro desautoriza-se, no maior estilo “quem manda aqui sou eu”. Depois mina-se a autoridade e, por fim, manda-se embora com direito a ataques das milícias virtuais. Em relação a Nelson Teich (Saúde), o primeiro passo foi dado nesta segunda-feira (12). O ministro ficou sabendo, durante entrevista coletiva, que o governo havia editado decreto flexibilizando o funcionamento de barbearias, salões de beleza e academias de ginástica.
É difícil, à luz da ciência, enquadrar qualquer uma destas atividades na categoria de essenciais. A reação do ministro, diante disso, foi de incredulidade e vexame. “Saiu hoje isso? Decisão de? Manicure, academia, barbearia…. Não é atribuição nossa, é uma decisão do presidente. A decisão de atividades essenciais é uma coisa definida pelo Ministério da Economia. E o que eu realmente acredito é que qualquer decisão que envolva a definição como essencial ou não, ela passa pela tua capacidade de fazer isso de uma forma que proteja as pessoas. Só para deixar claro que isso é uma decisão do Ministério da Economia. Não é nossa”, disse Teich.
A posição do presidente seguiu na linha de que quem manifesta inconformismo com a produção do ministro, que não consegue agradar nem aos que defendem a ciência e nem aos terraplanistas do governo. A edição do decreto soou para os bolsonaristas como os tapas do Capitão Nascimento no Senhor O1, no filme Tropa de Elite. Eram “tapas” com a “intimação” para que ele deixasse o governo. Há um modus operandi no procedimento. Foi assim com Gustavo Bebiana (Secretário-Geral da Presidência), em fevereiro de 2019. Foi assim com vários outros ministros, entre eles, Sérgio Moro, a então “estrela” do governo, que saiu atirando e ameaça minar o governo com acusações de tentativas de interferência na PF.
Acontece agora com Nelson Teich coisa parecida com o que aconteceu com o antecessor, Luiz Henrique Mandetta, em um governo que não consegue viver sem um bode na sala, para confundir a opinião pública. Em relação ao antecessor, falta ao atual ministro uma mistura de apego à ciência e malandragem política para colocar o presidente em saia justa. Diante das câmaras, humilhado pelo presidente, Teich lembrou mais o mórbido e remendado mordomo da Família Adams que o médico e gestor brilhante delineados no currículo dele.
O nome de Teich serviu a Bolsonaro, no primeiro momento, apenas como pano de fundo para esconder a real intenção: abrir espaço para o ex-ministro Osmar Terra. O titular da Cidadania é o preferido dos bolsonaristas por causa das suas posições pró-abertura da atividade econômica. E, em meio a este alinhamento ideológico, conta pouco a raiva de antes por causa das insinuações maldosas de que Terra seria mais próximo que o recomendado da primeira-dama. Diante dos últimos acontecimentos, o melhor para Teich seria seguir o exemplo do Senhor 01 e pedir pra sair.