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O (médico) Bolsonaro, a Cloroquina e o Gato de Schrödinger
Termômetro da Política
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No mesmo dia em que o número oficial de mortes pelo novo Coronavírus chegou a 13.149 no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a “brincar de médico” (no pior dos sentidos). Favorito da turma do jaleco, nas eleições de 2018, o chefe do Executivo usou os holofotes nesta quarta-feira (13) para receitar o uso da cloroquina para o tratamento dos infectados pela Covid-19. E o mais interessante: ao ser confrontado por jornalistas com pesquisas recentes que indicam o efeito meramente placebo da droga para tratamento do Coronavírus, puxou do colete algo parecido com o paradoxo do Gato de Schrödinger. “Pode dar certo e pode não dar certo”.

O presidente Jair Bolsonaro tem ignorado as regras de isolamento e participado de eventos públicos. Foto: José Cruz/Agência Brasil

Ora, um estudo realizado pela Universidade de Albany, no estado de Nova York, e divulgado nesta semana indicou não existir relação entre o uso da Cloroquina e da hidroxicloroquina e a redução da mortalidade pela doença. Foram analisados 1.438 pacientes infectados com coronavírus, em 25 hospitais de Nova York. E sabe o curioso? A pesquisa revelou que os usuários correram mais riscos de morte em decorrência de problemas cardíacos. E daí, antes de explicar melhor o uso do gato no experimento bolsonarista, vale a frase toda sobre a recomendação para o uso do medicamento constantemente desaconselhado pelos médicos e, olha só, pela ciência.

“Vou conversar hoje com o Ministério da Saúde. No meu entendimento, que não sou médico, tá, mas no entendimento de muitos médicos do Brasil, e outras entidades de outros países, entende que a cloroquina pode e deve ser usada desde o início. Apesar de saberem que não tem uma confirmação científica da sua eficácia, mas como estamos em uma emergência, enquanto não tivermos algo comprovado no mundo, temos esse no Brasil. Aqui que pode dar certo e pode não dar certo. Mas como a pessoa não pode esperar quase cinco dias pra decidir, a morte pode vir, é melhor usar“, disse.

Diante do enunciado trazido pelo título, imagino que até agora o paciente leitor que não entenda de mecânica quântica deve estar se perguntando o porquê da relação entre gato e Bolsonaro, já que o sentido lúdico da referência ao felino é o oposto do presidente. Me explico. O Gato de Schrödinger é sobretudo uma experiência mental, para explicar o comportamento complexo e pouco convencional das partículas subatômicas. O experimento foi criado pelo físico austríaco Erwin Schrödinger, em 1935. O paradoxo é usado muito para explicar situações em que as coisas podem acontecer e podem não acontecer ou os dois ao mesmo tempo.

A experiência mental (não tentem pôr em prática em casa, por favor) consiste em encerrar um gato em uma caixa. Dentro dela seriam colocadas partículas radioativas e se elas circulassem, o animal morreria. Se permanecessem imóveis, as partículas e o gato, o bichano sobreviveria. A possibilidade de viver ou dizer bye-bye é de 50% para cada uma das opções. Como há incerteza sobre o acontecido, tem-se a possibilidade de o gato estar vivo, morto ou vivo e morto ao mesmo tempo. Ou seja, “vivomorto”. Para saber o que realmente aconteceu, é preciso abrir a caixa. Daí vem a constatação de que a curiosidade do homem é o que mata o gato.

Adaptando o paradoxo do Gato de Schrödinger ao receituário bolsonarista, é possível dizer que a crendice cega e o desprezo pela ciência pode matar o paciente. As pesquisas mais recentes mostram que o medicamento não tem o prometido efeito milagroso diante da Covid-19. O consumo dele pode agravar o quadro clínico do paciente. Então, quem fizer a experiência pode seguir o caminho pensado pelo físico austríaco. O risco com isso é, no final da história, a família não poder estar por perto para dizer bye-bye.

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