Já disse Tom Jobim que o Brasil não é um país para principiantes. É impressionante que na maior crise enfrentada pela saúde pública mundial dos últimos 100 anos, o Brasil esteja há 15 dias sem Ministro da Saúde, a principal autoridade de saúde do país. Coincidência ou não, na mesma data chegamos aos 500 mil casos da covid-19 no Brasil (precisamente 498.440 hoje dia 30/05/2020), obviamente levando em consideração apenas os casos confirmados. Se considerarmos os que não foram notificados, já passamos deste número faz tempo.
Enquanto a Europa vivencia a segunda etapa da abertura econômica, o Brasil segue na trilha do obscurantismo, sem direção única e concisa de saúde no país. Os problemas se agravam: sub-notificação, não realização de testagem em massa, aumento no número de mortes (em média 1.000 por dia), com um tratamento sem embasamento claro e banalizado com cloroquina entre outras tantas coisas que você caro leitor já sabe.
A impressão é o que o Brasil está abandonado, sem direção… na verdade, o mais estranho de tudo isso é que parece ser tudo isso pensado e proposital, aliás, quais as alternativas?! Osmar Terra? Nise Yamaguchi? Antonio Barra? E tem também o Eduardo Pazuello, que no momento ocupa o cargo de forma interina e também tímida, com poucos posicionamentos e direcionamentos. Mas afinal, quem quer que seja a futura autoridade de saúde do país, será apenas partícipe de um projeto maior de abandono estratégico da saúde pública como bem coletivo.
Parece que pouco importa quem ocupar o cargo, se não seguir a linha bolsonarista de abertura econômica, negacionismo da ciência e de subestimação do novo coronavírus (apesar dos crescentes números), uma hora ou outra irá ser convidado a se retirar, assim como foi com Mandetta e Teich.
Alguns que podem seguem reféns em suas próprias casas há mais de 70 dias aguardando medidas mais sérias e até palavras de conforto de quem deveria ser responsável pela política de saúde no Brasil. Outros tantos, pelas condições precárias de trabalho ou mesmo porque são vítimas da desinformação provocada pelos próprios governantes seguem em risco. Enquanto isso, o nosso sistema de saúde segue entrando em colapso e sem os recursos extras prometidos de 10 bilhões de reais (para a política de saúde e assistência social).
O lema de pátria amada deveria ser substituído por pátria largada.