Imagine que você tem o Ministério da Saúde entregue nas mãos de um general cujo rico currículo o apresenta como especialista em logística. Bom, né? Só assim você fica tranquilo de imaginar que pelo menos os respiradores vão chegar ao destino. Então, eis que este mesmo ministro/general Eduardo Pazuello vai ao Congresso para dar explicações sobre a falta de transparência na divulgação dos números de infectados e de mortos pelo novo Coronavírus. Ele, então, decide demonstrar todo o seu conhecimento climático do Brasil e diz o inacreditável: os meses de inverno no Norte e Nordeste do país são os mesmos do hemisfério Norte. Sim, do Norte do planeta.
Eu gostaria dizer que um chá de bússola, tomado à meia-noite, na lua cheia de um equinócio (duvido que ele saiba o que é isso), faria bem ao ministro. Mas, infelizmente, a receita não funcionaria para ele, assim como não resolveria o problema de praticamente todos os ministérios. A situação é grave. Muitos dos auxiliares do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sequer acreditam que o planeta tem dois hemisférios e na condição esférica do planeta. Por isso, já dá para ver uma certa evolução de Pazuello em relação a muitos colegas.
Mas da mesma forma que o forte do ministro não é Geografia, não o é em relação a ações de enfrentamento à pandemia que já matou 38,4 mil pessoas no país. Desde que assumiu o cargo, Pazuello conseguiu notoriedade apenas por envolvimento em dois episódios nada abonadores. O primeiro foi colocar em prática o plano bolsonarista de transformar ao cloroquina em bandeira do governo para o enfrentamento à Covid-19. Já o segundo foi embarcar na decisão louca do presidente de esconder os números de contaminados e mortos pela pandemia, seguindo o modelo da ditadura militar.
O caso foi contornado com uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que mandou o governo divulgar todos os dados como se fazia anteriormente. Desde a semana passada, por ordem do presidente, o Ministério da Saúde passou a divulgar apenas os nomes das mortes diárias, sem contabilizar o total, nem os casos de mortes registrados em outros dias e que estavam em investigação.
O caminho que nos fez chegar até aqui, no aspecto da saúde, é dramático. Primeiro, o ministro Luiz Henrique Mandetta adotou um discurso pró-ciência e que defendia o isolamento da população e por isso foi demitido. Com a saída, entrou Nelson Teich, que, em menos de um mês no governo, procurou o caminho da rua, por não aguentar a pressão para aprovar o uso da cloroquina e outras medidas anticiência. O jeito, para Bolsonaro, foi recorrer ao número dois no Ministério, para comandar a pasta.
Pazuello, neste meio tempo, passou de figura respeitada na caserna a alvo de piadas. Entrou para uma galeria lotada de figuras inacreditáveis, que têm como ícone o próprio presidente. A eles se somam personagens como o ministro da Educação, Abraham Weintraub, e a ministra da Mulher e dos Direitos Humanos, Damares Alves. Isso sem falar do chanceler Ernesto Araújo, ícone da briga contra moinhos de vento.
Complexo de Napoleão é fichinha.