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O “pesque e pague” de Bolsonaro para transformar o centrão em pára-quedas
Termômetro da Política
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Fábio Faria (PSD-RN) é mais um do centrão a ocupar um cargo no governo federal. Foto: Gustavo Lima / Câmara dos Deputados

A recriação do Ministério das Comunicações para abrigar mais um partido do centrão tem deixado a imprensa em polvorosa. É como se, fora do discurso oficial, causasse alguma surpresa a volta de Jair Bolsonaro (sem partido) às suas origens. Mas vale lembrar que antes de assumir o discurso esfarrapado de defensor da nova política, o presidente integrou a extrema direita de praticamente todas as siglas de centro. Além disso, também não custa lembrar que estes partidos, conhecidos pelo ‘toma lá dá cá’, são herdeiros de pai e mãe da velha Arena, o partido que deu sustentação aos militares.

Como nos velhos tempos da Arena, siglas como PP, PL, Republicanos, PTB, DEM e PSD entregam apoio, mas cobram caro por isso. E eles são reforçados pelas alas fisiológicas do MDB e do Solidariedade, agregados ao mesmo projeto. O pagamento mais recente foi a recriação do Ministério das Comunicações, para ser entregue ao deputado Fábio Faria (PSD-RN). Ele é casado com Patrícia Abravanel, filha do empresário Sílvio Santos. Um parentesco citado por Bolsonaro como compensação para o fato de Faria não entender nada sobre o setor.

O roteiro no ‘pesque e pague’ bolsonarista é o mesmo de outros presidentes. Quanto mais fragilizado politicamente, mais caro pagam pelas adesões. E o centrão, com 200 votos na Câmara, tem o que oferecer, apesar de muitas vezes não entregar a encomenda. A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) foi alvo disso em 2016, quando sofreu um impeachment. Vieram do centrão os votos necessários para garantir o encurtamento do segundo mandato conseguido por ela na disputa eleitoral de 2014.

No processo de aparelhamento do governo, a cobrança é sempre pelo filé. O PL, por exemplo, conseguiu emplacar Garigham Amarante Pinto na Diretoria de Ações Educacionais do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). E qual é o orçamento da pasta ligada ao Ministério da Saúde? Nada menos que R$ 29,9 bilhões. Não é pouco dinheiro. Ao Avante foi entregue o Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), com orçamento de quase R$ 1 bilhão.

A fragilização de Bolsonaro, temeroso de um impeachment, fez com que o carrinho de feira do centrão abocanhasse ainda a CBTU, com orçamento de R$ 1,1 bilhão; a Secretaria Nacional de Mobilidade e Desenvolvimento Regional, ligada a um ministério com orçamento de R$ 17,2 bilhões de orçamento. Houve indicação também para a Itaipu Binacional, Funasa e ITI (Instituto Nacional de Tecnologia da Informação).

Para quem conhece o centrão, é fácil dizer que a gente sabe como esse processo tem início, mas sabe ainda mais como ele termina.

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