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É bom desconfiar de quem promete financiar a campanha com dinheiro do próprio bolso
Termômetro da Política
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Primeiro turno das eleições deste ano deverá ser em novembro. Foto: Fábio Pozzebom/ABr

O Senado finalizou, nesta semana, a votação do projeto que prevê o adiamento das eleições deste ano. Se texto for mantido pela Câmara dos Deputados, elas vão ocorrer entre os dias 15 e 29 de novembro. As datas mudam, mas o pleito continua neste ano e, com ele, as discussões infindáveis sobre bem e mal na política brasileira. Um dos pontos de discussão mais controvertidos nas rodas políticas diz respeito ao financiamento eleitoral. Há uma parcela significativa da população que defende que os próprios candidatos financiem suas campanhas. Eu sempre escuto, rio de forma discreta e faço a mesma velha e manjada pergunta: “você acredita em almoço grátis?”

O tema financiamento de campanha carece, sempre, de muita reflexão. Eu, particularmente, já fui contra. Hoje vejo como meio para que as pessoas com menos posses possam representar a sociedade em cargos executivos e legislativos. Aceito qualquer argumento na linha de que o dinheiro não é bem repartido ou que os partidos são cartórios, voltados para servir aos dirigentes e seus aliados mais próximos. Entendo, ainda, que é preciso haver mudança nisso, para tornar o acesso ao recurso mais democrático. Agora, sempre vejo com muita desconfiança quem diz que vai financiar cada centavo da campanha. Imagine alguém gastando R$ 1 milhão ou mais para se eleger. Ele faz isso por altruísmo? Não vai cobrar a fatura depois? Difícil, não é?

As campanhas eleitorais brasileiras já foram financiadas de forma mista, com parte do dinheiro vindo de doações empresariais. É possível ter todo tipo de crítica à operação Lava Jato. Ela foi seletiva, atendeu a interesses políticos, tudo. Mas também é verdade que ela escancarou o círculo vicioso entre as doações legais (mais caixa 2) e os superfaturamentos em obras e serviços. O financiamento público de campanha não acabou o caixa 2, mas o conjunto de regras fez com que as campanhas, de um modo geral, se tornassem mais baratas. As novas formas de fazer campanha, com o uso da internet, contribuíram para isso. O ano de 2018 foi didático neste sentido.

Apesar disso, não faltam aqueles que critiquem a verba. Lembram que estes R$ 2 bilhões previstos poderiam ser melhor utilizado em programas sociais. Mas no fundo a questão não é essa. Ela está muito mais voltada para o expurgo das forças populares do convívio político. O Congresso, mais do que nunca, foi entregue à dominação das bancadas temáticas. Elas, em sua maioria, estão lá para defender as bandeiras dos pecuaristas, do agronegócio, das grandes corporações médicas ou educacionais. Há ainda a bancada da Bíblia, que, muito constantemente, se agrega a qualquer uma das anteriormente citadas. A consequência disso é que os mais pobres continuam subrepresentados. Estão relegados a um fosso onde seus interesses pouco ou nada são ouvidos. E se só os ricos puderem ser financiados, a coisa tende a ficar pior ainda.

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