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Forçar Armadas se equivocam sobre quem deveria pedir desculpas ao Brasil
Termômetro da Política
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Eduardo Pazuello é o ministro interino da Saúde há quase dois meses. Foto: Najara Araujo/Câmara dos Deputados

“O Brasil não é para principiantes”, disse certa vez Tom Jobim. Nosso “maestro soberano” viu muito, mas nem ele acreditaria no quanto ainda em 2020 a frase se faz atual. O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse no sábado (11) que o Exército, ao ocupar cargos técnicos no Ministério da Saúde em meio à crise do novo coronavírus, está se associando a um genocídio​. Alguma mentira nisso? A morte de 74,2 mil pessoas não é análoga a um genocídio? Então, o Ministério da Saúde é de fato comandando por um militar, Eduardo Pazuello, que, por sua vez, nomeou 24 outros militares para substituir quadros técnicos na pasta em meio a uma pandemia. Alguém sabe dizer se deu certo?

Os números da Covid-19 no Brasil mostraram que não. Note que já superamos em mais do dobro o número de mortes da “guerra civil” desejado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) quando ele ainda nem sonhava em assumir o maior posto da República. Então vejamos: Pazuello é um militar da ativa, trocou técnicos do Ministério da Saúde por militares sem experiência e comanda uma pasta/bomba, tamanha a incompetência para produzir números aceitáveis.

O governo federal abriu mão de ter uma política nacional de enfrentamento da Covid-19. Dois ministros (Henrique Mandetta e Nelson Teich), ambos médicos, caíram em desgraça por não comprarem a ideia do presidente de tornar a hidroxicloroquina um remédio milagroso para conter o novo Coronavírus. E aí vem a pergunta: o medicamento funciona? Não há um único estudo sério no mundo apontando neste sentido. E depois de dois médicos se negarem a editar os protocolos recomendando a Cloroquina, quem aceitou fazê-lo? A resposta é…. Pazuello. Isso, o nosso militar/ministro.

Não custa lembrar que o Exército, apesar das negativas dos seus comandantes, vem se tornando um garantidor da gestão Bolsonaro. São 11 ministros no governo. E não são raras as ameaças à democracia. Em 2018, antes do STF julgar o habeas corpus de Lula, o então comandante das Forças Armadas, Eduardo Villas Bôas, divulgou mensagem ameaçadora contra a Suprema Corte. Surtiu efeito sobre os togados. Meses depois, já em 2019, com Bolsonaro eleito, ele tentou fazer o mesmo no julgamento sobre a segunda instância. Não teve o mesmo sucesso. Em maio deste ano, o ministro Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) divulgou nota falando em “consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional” contra possível decisão do Supremo. E houve muitos ouros casos.

Os militares brasileiros, por isso, não conseguem fugir do passado golpista. O governo abriga, hoje, quase três mil militares, com muitos da ativa. Muito diferente dos Estados Unidos. Lá, o comandante das Forças Armadas, Mark Miller, foi a público pedir desculpas aos norte-americanos. Isso por que ele caminhou ao lado de Donald Trump durante uma manifestação. Ele não quiser que houvesse confusão e as pessoas enxergassem posicionamento político nas Forças Armadas. Aqui no Brasil os fardados tomaram o poder em 1964 e mesmo após a redemocratização despertam sempre nas pessoas o medo da reedição do golpismo.

Sobre a fala de Gilmar Mendes, ela deveria causar constrangimento e pedidos de desculpas por parte dos militares e não o contrário. O vice-presidente, general Hamilton Mourão, vem cobrando pedido de desculpas por parte do ministro. Surreal. O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, entrou com uma representação na Procuradoria-Geral da República (PGR). O pedido tem a assinatura também dos três chefes das Forças Armadas. É a prova de que falta a eles a dimensão real do papel institucional das Forças Armadas.

Numa democracia, é lícita a manifestação de pensamento. Você pode ter todas as queixas em relação a Gilmar Mendes. Falar, inclusive, da relação aproximada dele com a tucanada, mas não dizer que ele está errado nesta manifestação. O Exército instrumentalizou, com seu pessoal, a pasta da Saúde. A pasta da saúde é um fiasco no enfrentamento da pandemia. Logo, não tem como dissociar as figuras. Tudo fora disso é choradeira autoritária. E pedir desculpas seria apenas o começo.

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