O mais comum na política paraibana quando um gestor não consegue emplacar seu sucessor é deixar a máquina pública completamente minada. O objetivo no pensamento provinciano é travar as ações do adversário político que vier a tomar posse no ano seguinte. Neste ano, na capital paraibana, pode-se dizer que o cenário é no mínimo inusitado. O legado da gestão Luciano Cartaxo (PV) em João Pessoa elevou a exigência do pessoense, o que torna-se problema de primeira hora para o prefeito eleito Cícero Lucena (PP) por um motivo diverso do histórico na política estadual: o maior desafio de Cícero será manter o nível de eficiência e transparência apresentados por Cartaxo ao final de oito anos de mandato.
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Há diversos casos em que políticos deixaram as gestões cheias de armadilhas prontas para o sucessor, além de dívidas com fornecedores, folha inchada, e caixa vazio. São muitos os relatos. E quando não tem uma eleição no meio é ainda pior, como na cassação de Cássio Cunha Lima, em 2009, que aprovou às pressas até plano de cargos e carreiras para aumentar os custos da administração no ano seguinte.
O atual prefeito da capital paraibana fez o contrário e foi ao extremo. Em balanço apresentado na semana passada, a gestão Luciano Cartaxo em João Pessoa mostrou que deixa a prefeitura com dinheiro em caixa e pagamentos em dia.
Quando acontece de um prefeito tomar posse e encontrar a gestão como terra arrasada, tudo fica fácil, pois qualquer coisa que ele fizer será bom, e para aquilo que não conseguir cumprir, basta culpar o antecessor. Por outro lado, é grande a responsabilidade de quem entra no lugar daquele que vinha fazendo um trabalho que ao final provou-se ser excelente.
Como a Prefeitura de João Pessoa também se tornou referência nos últimos anos pela transparência pública, Cícero, que se elegeu com o mote de “gestor preparado”, terá a ingrata missão de manter o elevado patamar no governo municipal e estará o tempo todo sob fiscalização. A mínima piora será encarada como rebaixamento, ao mesmo tempo em que qualquer política de redução da transparência será recebida pela população como retrocesso.