“Acabou a fase da oferta tecnológica”. Essa frase resume a visão da nova gestão da Embrapa Algodão com foco no setor produtivo da cotonicultura nacional e foi dita pelo seu novo chefe-geral, Alderi Emídio de Araújo, durante uma reunião anual da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e Derivados, ocorrida de modo virtual em meados de janeiro.
À frente, desde outubro de 2020, de uma das unidades de pesquisa mais estratégicas e produtivas da estatal vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Araújo, que ingressou na Embrapa em 1989, sabe o que fala.
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Ele foi selecionado em processo de avaliação interna com representantes externos do setor produtivo, modelo que garante à Embrapa ser um dos poucos cases de sucesso e estabilidade institucional no cenário brasileiro entre as empresas estatais. O novo chefe geral (nome do cargo máximo das unidades descentralizadas) tem um mandato de dois anos para cumprir o que prometeu em seu plano de trabalho, um dos principais requisitos desse concurso.
Doutor em Agronomia na área de Fitopatologia pela ESALQ/USP, Alderi já trabalhou na Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus – AM) e atualmente é membro do Comitê Executivo da Asociación Latinoamericana de Investigación y Desarrollo del Algodón (ALIDA, na sigla em espanhol) e do Comitê Executivo da International Cotton Researchers Association (ICRA).
O novo executivo vai apostar num diferencial importante: o aporte tecnológico aos pequenos produtores de algodão do semiárido brasileiro, onde se planta desde o início do ano de 2000 as variedades de algodão naturalmente colorido, com adoção de modelos de cultivo agroecológico e orgânico.
“Vamos continuar fomentando ativos de inovação para o cultivo de algodão com características diferenciadas como as variedades de fibra longa, extralonga e aquelas com resistência às doenças e aos nematoides”, diz Araújo.
Agora no comando do Centro Nacional de Pesquisa do Algodão (CNPA) Araújo poderá coordenar uma programação de pesquisa que sua própria equipe definiu para os próximos anos. “Nós vamos trabalhar olhando para o campo, indo desenvolver tecnologia ao lado do produtor e em parceria com a iniciativa privada”, asseverou.
O executivo acrescentou que a Embrapa sempre esteve “abrindo caminhos”. Nas décadas passadas, a empresa chegou a ter quase 95% do mercado de sementes de algodão. Ele lembra também que acompanha as primeiras visitas técnicas aos plantios do Mato Grosso em meados da década dos anos 80. “Eu, pessoalmente, venho trabalhando com a cultura desde 1997, acompanhando, especialmente, o algodão do Cerrado”, lembrou.
Segundo Alderi, a equipe de pesquisadores da Embrapa Algodão está mais focada na busca por melhorias na qualidade da fibra e em novas soluções para fomentar maior sustentabilidade desse agronegócio, na linha das exigências dos clientes por certificação e rastreabilidade do produto, visando, principalmente, a identificação de potenciais novos mercados.
Dados da ComexStat – MDIC, indicam que os principais destinos da exportação do algodão brasileiro são: China (30%), Vietnã (15%), Bangladesh (13%), Paquistão (em torno de 12%), Turquia (8%), Malásia (4%), Coreia do Sul, Índia e Tailândia (abaixo de 3%).
“Nossos principais projetos em andamento estão concentrados em áreas como o desenvolvimento de sistemas de produção sustentáveis, em pesquisas visando o silenciamento gênico para controle de pragas como a mosca branca, no manejo do bicudo e em novos estudos de melhoramento genético do algodoeiro com foco na resistência a doenças e qualidade de fibra”, acrescenta.
Alderi detalha que a Embrapa Algodão vem operando e direcionando seus esforços, tendo como principais desafios dessa cadeia produtiva a atenção aos problemas resultantes do aumento da área cultivada, doenças emergentes, custo de produção e a demanda por novos aportes tecnológicos, visando aquilo que está sendo chamado de “agricultura 4.0”.
“Estamos empenhados em desenvolver diagnóstico e manejo de fitonematóides, em parceria com o IBA, o avanço na Plataforma do Bicudo, na busca por variedades transgênicas resistentes a essa praga, manejo de solos em algodão de alta tecnologia no Cerrado da Bahia, com desenvolvimento de sistemas de previsão para a mancha da ramulária, dentro do projeto ‘Monitora Oeste’, em parceria com outros dois centros de pesquisa da Embrapa, e ainda com estudos sobre o manejo de fungicidas para controle da mancha de ramulária e o genoma de fungos causadores desta doença, numa parceria com grupos privados e a Universidade de Brasília”, acrescenta o dirigente.
Alderi informou também que acaba de designar um pesquisador da equipe para atuar exclusivamente junto ao laboratório de fibras da Associação Goiana dos Produtores de Algodão (AGOPA), em Goiânia.
Além do algodão, a Embrapa em Campina Grande (PB) desenvolve ações voltadas ao uso de coprodutos de sisal, do desenvolvimento de programas de pesquisa voltados à automação dos sistemas de produção, inserindo a Embrapa no contexto da agricultura 4.0.
Para sua equipe adjunta, Alderi nomeou os pesquisadores Nair Helena de Castro Arriel (Pesquisa e Desenvolvimento), Odilon Reny Ribeiro da Silva (Administração) e João Henrique Zonta (Transferência de Tecnologia).
Alderi Araujo é engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e mestre em fitopatologia pela Universidade Federal de Viçosa. Já exerceu o cargo de chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Unidade, no período de 1999 a 2003, além de articulador internacional, no qual coordenou as ações de cooperação técnica com países africanos e sul-americanos e cooperação científica com o CIRAD-França.