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Cultura -
Paredão: vereador pessoense usa estrutura legislativa para ‘cancelar’ participante do BBB
Termômetro da Política
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Além de enfrentar o paredão no BBB, Karol Conká pode ainda receber um Voto de Repúdio pela Câmara de João Pessoa (Foto: Reprodução/TV GLobo)

O primeiro dia de trabalhos legislativos em 2021 na Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP) foi marcado por uma matéria polêmica, apresentada pelo vereador estreante Junio Leandro (PDT). Na mesma terça-feira (23) em que a rapper Karol Conká, participante do reality show Big Brother Brasil, da Rede Globo, enfrenta no ‘paredão’ a votação popular para saber se fica na casa ou é eliminada, o parlamentar pessoense apresentou um requerimento propondo Voto de Repúdio e título de persona non grata à cantora.

Em seu requerimento, Junio Leandro usa como argumento para ‘cancelar’ Karol Conká a atitude supostamente xenófoba da participante contra a paraibana Juliette Freire, que mora em João Pessoa e também disputa esta edição do BBB.

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“A participante Karol Conká, aferiu palavras xenofóbicas ao comparar a educação de Curitiba com a educação do povo de cá Paraíba, ao se referir a participante Juliette Freire, nordestina, paraibana, moradora da nossa tão amada cidade de João Pessoa, impulsionadora das nossas raízes”, diz Junio Leandro no requerimento.

Antes mesmo da proposta do vereador ser protocolada sob o número 546/2021 no Sistema de Apoio ao Processo Legislativo da CMJP, Karol Conká já sofria um linchamento virtual em decorrência de seus atos e de seu comportamento no programa. Com o voto de repúdio e ainda o título de persona non grata, que sequer existe no Regimento Interno da Câmara, o vereador usa a estrutura do Poder Legislativo municipal para ampliar o ‘cancelamento’ imposto à artista. Para Camila Rocha Mc, rapper paraibana e integrante do grupo Sinta A Liga Crew, a proposta é absurda.

“Achei um absurdo, um disparate usar a nossa máquina política pra isso. Esse homem [Junio Leandro] está fazendo um desserviço à cultura. Em 2020, passamos um ano sem trabalhar, nos submetemos a um edital [Lei Aldir Blanc] que nem de longe supre o ano inteiro, e aí esse cara vem abordar uma pauta dessas! Artistas da cidade passando necessidade e ele preocupado com Big Brother!”, desabafou Camila Rocha.

Diante das dificuldades enfrentadas pela classe artística, Camila sugere que o parlamentar proponha soluções para os artistas da cidade. “Seria mais interessante este senhor se voltar para os artistas da cidade dele, porque aqui não existe política pública para abraçar os artistas da casa. Temos que sair e nos expor lá fora, sofrer xenofobia, porque aqui não tem edital aberto o ano inteiro, não tem apoio suficiente, principalmente para o pessoal do hip hop. Por que é que este rapaz não faz com que os artistas da terra dele sejam personas gratas?”, sugere.

Novo cancelamento

Sobre o uso da estrutura legislativa da CMJP contra Karol Conká, a rapper paraibana avalia que o vereador Junio Leandro reafirma violências: “Esse tipo de comportamento que ele quer desenvolver é justamente o comportamento dela. É uma perpetuação. A gente não pode combater violência com violência, machismo com machismo, xenofobia com xenofobia. Temos que mostrar que há soluções fora desse ciclo”, afirma.

Junto à Sinta A Liga Crew, Camila Rocha vivenciou uma experiência artística com Karol Conká, quando o grupo paraibano abriu um show da cantora em 2016, no Espaço Cultural, em João Pessoa. Para Camila Rocha, Conká era, até então, uma referência. A MC paraibana avalia como decepcionante a conduta de Karol Conká no BBB.

“Foi uma decepção grande. Ela é um rosto de representatividade de várias pautas, e aí de repente tirou o nosso chão. Vimos nela uma face humana, que todos nós temos”, lamenta Camila, que também avalia com cautela a onda de violência estabelecida sob o viés do cancelamento nas redes sociais digitais. “Ela vai sofrer as consequências. Ao tratar isso com o ódio que as pessoas estão tratando, a gente entra num lugar muito perigoso”, conclui a MC paraibana.

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