Após mais de um ano de pandemia de covid-19 no Brasil, 422.418 mortes, 15.182.219 casos da doença e ainda a falta de vacinas porque o governo não planejou a compra dos imunizantes no tempo certo, há quem minimize os riscos de contaminação pelo novo coronavírus. Para quem perdeu familiares para a doença ou foi gravemente prejudicado pela crise econômica, se deparar na rua com um negacionista pode ser no mínimo frustrante. Para ajudar a extravasar a raiva, um grupo de desenvolvedores brasileiros trabalha na criação do game Punhos de Repúdio, que coloca o jogador para trocar tapas com o cidadão que sai na rua sem máscara de proteção facial, se aglomerando e espalhando o vírus.
Apesar de o uso de máscara de proteção facial ser obrigatório e regulamentado pela Lei nº 14.019/2020, muitas pessoas se negam a usar. No game, os personagens percorrem cenários onde se deparam com pessoas sem máscaras, em aglomerações, fazendo pouco caso da covid-19. A ideia do jogo é descer a porrada, no mais clássico formato “briga de rua”, ou beat ‘em up, consagrado por jogos como Double Dragon, Final Fight e Streets of Rage.
O jogo ainda está em fase de desenvolvimento, mas já alcançou um sucesso estrondoso. A campanha de financiamento coletivo por meio da plataforma Catarse, onde foi lançado com a proposta de arrecadar recursos para a produção do game, já superou em 7,6x a meta inicial de R$ 5 mil. Com o montante superior a R$ 38 mil arrecadados, os desenvolvedores agora trabalham em nova meta de R$ 50 mil para lançar, além das versões Windows, Linux, MacOS e PS4, também para as plataformas Xbox One e Nintendo Switch.
O time da Braindead Broccoli Games, que trabalha no desenvolvimento do game Punhos de Repúdio, é composto por Kainã Lacerda (ilustrador e roteirista), Ulisses D’Ávila (programador e game designer), Luiza Bartolette (social media e community manager), Filipe (estagiário), Vitor (efeitos sonoros e mixagem de som) e João Matheus (trilha sonora).
Conversamos com a equipe responsável pelo desenvolvimento do game. Confira abaixo a entrevista:
Em que momento surgiu a ideia do game?
O jogo nasceu em julho do ano passado, quando o Kainã viu notícias de pessoas nos bairros nobres do Rio de Janeiro desrespeitando a quarentena em uma época de pico nos óbitos. Ele e o Ulisses já haviam conversado sobre iniciar um jogo no estilo fliperama, inspirado em Scott Pilgrim e Streets of Rage, mas a pandemia foi o que fez eles começarem. No mesmo dia, já estava pronta a primeira build [estrutura] com combate básico.
Vocês esperavam tanto sucesso no Catarse? Como tem sido a repercussão?
Nós colocamos inicialmente uma meta que considerávamos segura de bater para que pudéssemos lançar o jogo, mas não esperávamos alcançar tão rápido a meta inicial e as seguintes. A repercussão tem sido maravilhosa, a grande maioria das pessoas que conhece o projeto se identifica de alguma forma.
Vocês acreditam que o game sirva como instrumento de conscientização para o enfrentamento da pandemia?
Não é bem a ideia do jogo. Assim como toda sátira, o game tem o potencial de levar à reflexão e estimular o pensamento crítico. Mas não temos grande lição de moral não.
Há um tom político no game, com pessoas que vestem camisas da seleção brasileira figurando como negacionistas, assim como a valorização do SUS. Vocês temem que esse viés atrapalhe?
Seria correto fazer um game falando sobre pandemia em cenários inspirados no Brasil sem retratar os negacionistas que apropriam a camisa da seleção e sem valorizar o único trunfo que tivemos na pandemia?
A questão de atrapalhar o jogo nunca foi colocada internamente, pois esse sempre foi o jogo.
Ouvi dizer que um dos chefões é um político. Há também no game uma crítica contra políticos que tratam a pandemia com desdém?
Desdém é coisa de criança.
Tem políticos no mundo que têm objetivo político de ajudar o vírus a matar mais gente. Seria correto o game não criticá-los?
A campanha no Catarse ultrapassou muito a meta inicial. Há previsão de lançamento do jogo para outras plataformas?
Sim! Nessa semana, a campanha atingiu os incríveis R$ 35 mil e, com isso, teremos as versões para Playstation 4 e MacOS.
Agora, estamos em busca dos R$ 50 mil para fazermos as versões de Nintendo Switch e Xbox One. Quem curtiu o game, dá uma olhada lá em www.punhosderepudio.com.br!