O depoimento do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, à CPI da Pandemia será retomado nesta quinta-feira (20), a partir das 9h30. O primeiro dia foi marcado pela lealdade ao presidente Jair Bolsonaro, inconsistências nas respostas e mentira sobre o incentivo para o uso da cloroquina como tratamento da covid-19. Apesar de ter habeas corpus para não responder perguntas que o incriminassem, Pazuello não se furtou. No caso da cloroquina, a mentira na negativa se deu pelo TrateCov, plataforma do Ministério da Saúde que indicava o uso do medicamento mesmo sem eficácia comprovada.
Pazuello explicou que o órgão apenas publicou uma “nota informativa”, em conformidade com o Conselho Federal de Medicina (CFM), para orientar os médicos. Segundo ele, o documento dizia que, se o profissional resolvesse prescrever o medicamento off-label (fora da bula), deveria ter atenção máxima em relação à dosagem de segurança. A nota, de acordo o ex-ministro, não recomendava ou incentivava o uso da cloroquina.
O general do Exército atribuiu à secretária do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, a criação da plataforma TrateCov, que recomendava uso de cloroquina e ivermectina para qualquer paciente, de qualquer idade. Segundo ele, era um protótipo, que não chegou a ser distribuído a profissionais de saúde e não chegou a ter custos aos cofres públicos.
“Essa plataforma foi copiada por um cidadão que fez a divulgação da plataforma com usos indevidos. Quando nós soubemos que tinha sido copiada e poderia ser usada por pessoas que não estavam dentro do planejado, determinei que ela fosse retirada do ar”, tentou justificar Pazuello. No entanto, como a plataforma foi desenvolvida e divulgada pelo Ministério da Saúde, hoje é prova de que o governo indicou o tratamento com a cloroquina.
Depois de mais de sete horas de questionamentos nesta quarta-feira (19), a reunião da comissão teve de ser suspensa devido às votações no Plenário do Senado. O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), avisou que ainda estão inscritos 24 senadores para fazer perguntas ao ex-ministro.
“A gente não sabia a que hora ia terminar a sessão [do Plenário] do Senado. Acho que não atrapalha. Temos amanhã [quinta-feira] o dia todo para conversar com o ex-ministro Pazuello”, disse Omar.
Na avaliação do presidente da CPI, Pazuello se esquivou de algumas perguntas, mas terá mais cinco ou seis horas na frente dos senadores. Omar opinou não ver necessidade de quebrar os sigilos do ex-ministro.
O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), afirmaram que Pazuello mentiu várias vezes aos senadores, além de omitir informações.
Para Randolfe, as contradições do depoimento mostram que Pazuello terá de ser acareado com outros depoentes da CPI. Para Renan, Pazuello estava “fingindo responder” e negou as próprias declarações que fez anteriormente.
Randolfe disse também que Pazuello teve um pequeno mal-estar e foi atendido pelo senador Otto Alencar (PSD-BA), que é medico, mas logo se recuperou.
“É a chamada síndrome vasovagal, que acontece muito com pessoas que passam por momentos tensos e ficam muito tempo sem se alimentar. Pode acontecer com qualquer pessoa. Ele se recuperou logo”, explicou Otto.
Como o depoimento de Pazuello será retomado nesta quinta-feira, acabou sendo adiada a audiência com Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde (ela seria ouvida nesta quinta). A nova data para a audiência com Mayra Pinheiro ainda será definida.
Com informações da Agência Senado