Pode-se até pensar que ter posicionamento político seja prejudicial a um empreendimento, mas algumas empresas estão apostando na ideia para conquistar o público e aumentar suas vendas. Além do marketing, empresários têm descido do muro contra o presidente da República e fortalecido o movimento “Fora Bolsonaro” também como forma de mostrar como a empresa se porta diante de questões sensíveis à sociedade.
Em João Pessoa, a Autêntica Pizzaria da Lambreta lançou o sabor “Paunomito”, que leva, entre outros ingredientes, palmito e muita crítica política. O sabor e o nome foram escolhidos junto ao público do Instagram da pizzaria, por meio de uma enquete com 149 votos favorecendo o nome e desbancando as outras opções: “Palmitop” e “Palmítica”. Segundo o empresário Thiago Freitas, cem unidades foram vendidas apenas no lançamento.
Veja também
Parlamentares de esquerda, centro e direita se unem em “superpedido” de impeachment de Bolsonaro
Thiago explica que desde sua fundação, há pouco menos de 1 ano, a pizzaria assumiu uma estratégia de usar memes ou fatos da atualidade no marketing da empresa e, segundo ele, “a política é impossível de ignorar”. Por ser um pequeno negócio local, eles acreditam que podem apostar em uma comunicação mais direta e transparente com o público.
O empreendedor não tem medo de perder clientes por seu posicionamento, pelo contrário, ele afirma que a estratégia foi montada para vender e revela que teve sucesso. Thiago responde, bem humorado, que se alguém não comprar sua pizza pelo seu posicionamento, provavelmente não gostou do produto.
“Eu não deixo de comer em um restaurante que eu gosto da comida porque tem uma postura diferente da minha, acho que a gente tem a capacidade de separar. Mas se a pessoa se incomodar e parar de pedir meu produto, talvez ela não goste tanto da minha pizza”, respondeu Thiago Freitas.
Ele também acredita que as pessoas esperam um posicionamento da empresa e que a neutralidade é incômoda. Segundo o dono da pizzaria, não se pode ignorar algo que “move o trabalho, o negócio e a vida de todo mundo” e que cabe a cada empresa encontrar sua melhor estratégia de comunicação com o público.
“Cada empresa deve encontrar um caminho, só não pode fingir que nada está acontecendo. A melhor maneira precisa ser amadurecida e, principalmente, é necessário conversar com o público, pois as pessoas querem saber o que as empresas pensam”, avalia o empresário.
Em Campina Grande, a biscoitaria Biscoitos Artesanais fabrica biscoitos com a frase “Fora Bolsonaro”. A empresa tem alta demanda, com agendamento e fila de espera para compra dos biscoitos, que vende até para outras cidades. No entanto, chama atenção o posicionamento da proprietária que, apesar do alto volume de vendas, faz questão de esconder o produto das suas redes sociais.
Socorro Sena, proprietária da biscoitaria, prefere fugir de qualquer posicionamento. “Trabalhamos com biscoitos personalizados e realizamos o desejo dos nossos clientes, independente de corrente política de direita e esquerda”, resumiu.
A diretora de Finanças e Planejamento da Cruz Assessoria em Negócios, Camilla Delfino, afirma que há uma tendência das empresas em se posicionar politicamente, pois isso pode trazer grandes benefícios, mas, ao mesmo tempo, pode ser um desastre. Ela recomenda que o empreendedor conheça o seu público antes de tomar qualquer posicionamento.
Segundo Márcio Almeida, diretor de Relacionamento Corporativo da Cruz Assessoria, o público tem se relacionado com empresas mais pelos seus aspectos ideológicos e causas que apoiam do que pelos produtos em si. “O posicionamento deve vir de forma transparente e respeitosa, sem manifestar-se pelo partido, mas sim pelas causas. Os benefícios recebidos são uma boa visibilidade, mas sempre depende do seu posicionamento, por isso, é importante mensurar bem como se portar perante essas situações”, avalia.
Para o cientista político Jaldes Meneses, empresários sempre estiveram muito próximos das decisões políticas e possuem uma grande influência. “O empresário sempre participou da vida política brasileira, não seria agora que ele ficaria em uma posição de neutralidade”. Ele cita três exemplos de momentos em que empresários financiaram ou foram influentes em momentos políticos históricos do país: as eleições de 1964, a queda da ditadura militar e o impeachment de Dilma Rousseff (PT).
Segundo Jaldes, Jair Bolsonaro (sem partido) tem hoje apoio de dois grandes setores, o agronegócio e o setor ligado ao comércio e serviços, que apoiaram o presidente durante a pandemia. O cientista político também afirma que ainda não há um bloco do empresariado contra o presidente, mas isso pode mudar após as investigações da CPI da Pandemia e as grandes manifestações por vacina e impeachment.