As aulas on-line foram adotadas por muitas escolas de dança que buscavam uma forma de manter suas atividades durante a pandemia. A realização das aulas estava associada a muitos problemas, principalmente às dificuldades para fazer a correção dos movimentos, de adaptação dos alunos e a boa conexão com a internet. Desde o ano passado, as escolas de dança estão retornando às aulas presenciais e buscando criar ambientes seguros para alunos e professores.
Sem conseguir contornar as dificuldades criadas pelas aulas on-line, muitas escolas de dança sofreram com a redução do corpo estudantil. A empresária Stella Paula, dona da escola de dança Jazz & Cia, relembra que perdeu mais de 60% dos alunos. O prejuízo foi grande, principalmente porque a maioria dos estudantes eram crianças, que tiveram muita dificuldade para se adaptar à nova realidade.
Após sete meses fechada, em setembro do ano passado a escola Jazz & Cia retornou com suas atividades presenciais criando a demarcação de um espaço de 2m no chão das salas de dança para garantir o distanciamento, instalou tapetes sanitizantes, investiu em álcool em gel e exaustores para facilitar a circulação do ar. As alunas também precisam verificar sua temperatura na entrada, retirar os sapatos e só entram nas salas com meias. Atrelados a esses cuidados, a constante limpeza das salas também foi uma preocupação da instituição.
Hoje, a escola possui cerca de 70 alunos matriculados, mas esse número não chega perto da quantidade que havia antes da pandemia. Segundo Stella, a instituição chegava a ter o dobro e até mesmo o triplo desse número.
A volta às aulas também está sendo um momento de redescoberta para os estudantes de dança, como a bailarina Aniely Ingrid, 27. Após um ano e dois meses com aulas remotas, ela se acostumou com o espaço do quarto, que foi onde passou a praticar. Ela define o retorno às aulas presenciais como um desafio, mas que “acaba dando um gostinho que nossa vida está sendo devolvida aos poucos”, reflete Aniely.
O grupo de dança Los Hermanos, que se autodefine como uma “empresa que vende dança“, é formado por cinco dançarinos, que ensinavam em academias e escolas de dança, além de animar eventos. Após a pandemia, eles perderam a renda que vinha das apresentações já marcadas e precisaram se adaptar para oferecer aulas on-line. Mas foi mostrando seu trabalho no TikTok e redes sociais que o grupo garantiu um novo público interessado nas suas aulas.
William Cabral, um dos dançarinos do grupo, explica que no começo os alunos estavam muito motivados com as aulas on-line, mas todos tinham a expectativa que a pandemia só durasse dois meses. Quando o isolamento se estendeu por mais tempo do que era esperado, os estudantes passaram a ficar desmotivados por vários fatores: internet ruim, espaço pequeno para praticar, convivência com outras pessoas em casa e até a dificuldade para a correção de movimentos.
Foi assim que as turmas foram sendo fechadas até restarem apenas alguns alunos interessados em continuar. Com eles, abriram uma turma onde puderam juntar todos para promover aulas híbridas, até conseguirem alugar um espaço para voltar com as aulas presenciais.
O que fez a diferença para o grupo foi se render ao fenômeno dos passinhos virais do TikTok. Eles foram procurados para fazer divulgação de lojas e músicas através de coreografias preparadas pelos dançarinos para o aplicativo de vídeos. A criação das coreografias rendeu para o grupo novos alunos quando as aulas presenciais voltaram, há cerca de dois meses. O dançarino William Cabral explica que o desafio agora é entender o que esse novo público procura e espera das aulas.
Atrelar a dança e a internet não é uma novidade para o Los Hermanos, uma vez que o grupo surgiu com o objetivo de criar coreografias para o YouTube e, agora, eles conseguiram profissionalizar o negócio. Eles continuaram apostando nessa relação com as redes sociais e produziram também conteúdo técnico e informativo sobre dança durante a pandemia.
Para garantir a segurança de todos, os Los Hermanos passaram a recomendar que os alunos levassem várias máscaras para poder fazer a troca após suar, manter o distanciamento, procuraram técnicas que não exigissem o contato muito próximo ao estudante e formaram turmas com número reduzido. Tudo com a intenção de criar para os praticantes um ambiente em que ele se sinta seguro para dançar e aprender.