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Cultura -
Mãe de santo celebra 40 anos de iniciação religiosa e de enfrentamento às desigualdades
Grace Vasconcelos - sob supervisão de Felipe Gesteira
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Para Mãe Lúcia, a intolerância contra religiões de matriz africana está relacionada com o racismo estrutural e o fundamentalismo religioso (Foto: Divulgação)

Há quatro dias, no terreiro Ilê Asé Opô Omidewá, localizado no bairro do Valentina Figueiredo, em João Pessoa, está sendo comemorado o aniversário de 40 anos de iniciação da Mãe Lúcia de Oxum no Candomblé, uma festa que deve durar até o próximo sábado (18), às 19h, quando será realizada uma festa pública para louvar o Orixá da matriarca. O terreiro da casa que segue a tradição Ketu é um ponto não só de celebrações, mas proteção da cultura afro-brasileira e realiza ações sociais no bairro.

Após receber orientação de uma entidade da Jurema e ser chamada pelo seu Orixá, em 1981, Lúcia se iniciou no Candomblé. Ela relembra que foi um processo muito significativo e que, na época, achava que estava destinada a ser uma Ebômi, que em português significa “irmã mais velha”, dos iniciados mais jovens. Três anos após completar o ciclo de iniciação no Candomblé, que dura sete anos, ela abriu sua primeira casa de Orixá no bairro do Valentina, mas em um terreno diferente do qual atua hoje.

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Em 2000, o terreiro foi aberto em um novo local, sendo a casa chamada de “Ilê Asé Opô Omidewá”, escrito em iorubá, que segundo Lúcia, significa “casa de força sustentada por Omidewá”, o último nome é uma referência ao nome de iniciação da matriarca, traduzido em “água chegou”. Para a mãe de santo, a função é um “sacerdócio para o resto da vida”.

Intolerância religiosa

Os terreiros que a Mãe Lúcia comandou já foram alvos de várias pedradas, uma violência que se estende por todas as casas de Orixá do Brasil. A matriarca explica que o enfrentamento está sendo feito através do diálogo, mas quando não há efeito, as vias legais são tomadas. Para a sacerdotisa, a intolerância contra religiões de matriz africana está relacionada com outros dois problemas: o racismo estrutural e o fundamentalismo religioso.

O terreiro mostra uma face que é muito difícil para aqueles que apedrejam: a solidariedade, ações sociais de combate à fome, conscientização a respeito do meio ambiente e a busca pela preservação da cultura de povos africanos e indígenas no Brasil.

Atuação no combate às desigualdades

O terreiro “Ilê Asé Opô Omidewá”, comandado por Lúcia, é sede também do Instituto de Desenvolvimento Social e Cultural Omidewá (Indesco). A matriarca conta que o lugar desenvolve atividades de grande importância, principalmente para o setor cultural, com ações que buscam preservar e disseminar o legado afro-brasileiro e de ameríndios do Estado da Paraíba.

A instituição já atuou em diferentes frentes, agindo no combate à fome, através de programas sociais do município, como o antigo Pão e Leite. O programa destinado à comunidades em vulnerabilidade social distribuía milhares de litros de leite e pão para os moradores, e o terreiro de Mãe Lúcia era o ponto de distribuição para a população do Valentina.

“Acredito que o maior legado deste Instituto foram as ações de segurança alimentar, enfrentando a fome dos povos periféricos quando os recursos eram escassos e até hoje, nesse momento, em que a economia não possibilita acesso a refeições diárias e saudáveis para toda população”, afirma a Mãe Lúcia.

Cultura e patrimônio

A preservação da cultura imaterial se dá por conta da ação Flora Omidewá, que desenvolve o projeto Colhendo Saberes, e conserva saberes sobre ervas e seus poderes ritualísticos e medicinais. No local, são empregadas técnicas de sustentabilidade para aumentar os canteiros de plantação, protegendo o ambiente e possibilitando a geração de renda para o instituto.

O Indesco também conta com um biblioteca comunitária, onde toda a população pode consultar e retirar por empréstimo mais de 300 títulos sobre as religiões afro-brasileiras. A matriarca garante que em breve também haverá atividades de corte e costura para as mulheres periféricas do bairro.

A casa realizava a Caminhada pela Água e pela Vida, que servia para chamar atenção da população e entes públicos para a proteção do meio ambiente, conduzindo para a criação do Parque Municipal Natural do Cuiá, criado na gestão de Luciano Agra, com objetivo de preservar nascentes de rios e a fauna e flora local.

A comemoração dos 40 anos de iniciação da Mãe Lúcia de Oxum será dia 18, às 19h, no terreiro Ilê Asé Opô Omidewá, localizado na Rua Alvorada, no Planalto da Boa Esperança, em João Pessoa.

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