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Artesanato Warao: refugiados da Venezuela na Paraíba obtêm renda com resgate às tradições
Grace Vasconcelos - sob supervisão de Felipe Gesteira
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Peças confeccionadas pelos refugiados venezuelanos na Paraíba são vendidas em loja virtual no Instagram (Foto: Divulgação/Alessandro Potter)

Na Paraíba, cerca de 150 indígenas Warao, vindos da Venezuela, estão divididos em cinco abrigos na cidade de João Pessoa, sendo ao todo 28 famílias registradas pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Humano (SEDH). Cada abrigo conta com a liderança de um cacique, como Epifânio Moreno, 56 anos. Na Venezuela, ele disse que teve diversas profissões desde pedreiro, ajudante de limpeza em um hospital e também trabalhou para o governo venezuelano, mas como vários outros waraos, ele sentiu a necessidade de se deslocar pelo território latino-americano procurando novas condições de vida. Na Paraíba, ele pôde encontrar no artesanato uma forma de voltar a ter uma renda financeira.

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Epifânio aprendeu a produzir cestas coloridas com a mãe, utilizando diferentes técnicas para alcançar as cores, uma tarefa que também tinha como objetivo conseguir dinheiro na Venezuela. Os pais pediram para ele aprender as peças antes da morte dos dois, já que era um conhecimento passado entre as famílias, e foi assim que ele começou a fazer artesanato. Os waraos utilizavam nas suas peças palmeiras dos Buritis, uma árvore que domina a região em que eles estavam estabelecidos. O cacique não foi o único que se conectou cedo com o ofício, outros waraos vieram para o Brasil trazendo os conhecimentos do artesanato da população.

Artesanato warao (Foto: Divulgação/Alessandro Potter)

Quem transformou isso em uma proposta de geração de renda foi o projeto Povos em Rede, uma iniciativa da extensão universitária Observatório Antropológico, vinculada à UFPB, e à organização não-governamental Minha Jampa. O projeto criou uma loja on-line para que os waraos refugiados no Estado da Paraíba possam vender bolsas, cestas, brincos e outras peças produzidas por aqueles que vivem nos abrigos. As parcerias desenvolvidas com Povos em Rede e Minha Jampa se encerraram. Hoje a loja funciona de forma independente.

“Esse projeto permite às famílias atualizar, no contexto migratório, os modos tradicionais de produção do artesanato, transmitindo às gerações mais jovens os modos de fazer. Além disso, permite que num contexto de descriminação eles sejam valorizados desde uma perspectiva positiva. E claro, a geração de renda é tão importante nesse contexto”, disse a coordenadora, Rita Santos.

Rita também explica que a compra dos materiais para a produção foi feita através de financiamento do Fundo Casa Socioambiental, em um edital que o projeto foi classificado em 2020. O valor integral das peças é repassado para os artesãos. “Sugerimos que eles façam uma reserva de parte desse recurso para a produção de novas peças. Mas a decisão de quanto e como está sendo feito é de cada artesão”, explica.

A coordenadora e Epifânio Moreno dizem que devido ao deslocamento para o Brasil, a palmeira do buriti não pode mais ser utilizada nos artesanatos, principalmente por ser muito caro exportar e o processo de obtenção não respeita a prática dos indígenas warao, o que leva a uma má qualidade segundo os artesãos. O material foi substituído por outros mais fáceis de serem encontrados na Paraíba, como algodão e fios de nylon.

Epifânio Moreno (Foto: Divulgação/Alessandro Potter)

Com os novos materiais, as famílias warao foram incentivadas a pensar formas diferentes de montagem e na confecção de outras peças, também houve a contratação de uma designer que auxiliou as famílias, apresentando novas possibilidades aos indígenas, que puderam aceitar ou recusar a proposta. Em conjunto, a equipe e os waraos observam as peças e podem verificar os melhores caminhos para a finalização, explicou a coordenadora.

Como comprar o artesanato Warao

A compra das peças deve ser feita através do perfil oficial do Instagram e em breve os produtos devem estar disponíveis em um ponto físico. Outros artesãos e populações, como as do Quilombo de Mituaçú e a Comunidade São Rafael também são beneficiados pela iniciativa. O público pode encontrar cordéis, artesanato em fuxico e uma rede de costureiras disponível no site oficial do projeto.

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