A ciência, as artes e a democracia no Brasil vêm sendo atacadas numa crescente desde a eleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2018. Artistas e figuras públicas que se opõem a este contexto de desumanidade declarada se dividem entre os que fazem oposição e os que preferem se calar para evitar conflito com apoiadores do atual mandatário da nação. Para Renan Barbosa, músico e psiquiatra paraibano radicado em São Paulo, sua voz definitivamente não se projeta de cima do muro. O artista tem lado e faz questão de tornar explícito.
“Até o psiquiatra, que também sou, tem se espantado com a maldade, a ignorância, as mentiras, a tentativa de destruir a arte e a cultura, em que tantos embarcaram. Mas estamos numa democracia. As pessoas podem divergir. Não rompi com meus amigos que apoiam o atual presidente. Mas não votei nele em 2018 e jamais o faria. Espanta-me que, depois deste desgoverno, alguém o apoie”, afirma Renan.
Radicado no estado de São Paulo há 30 anos, Renan Barbosa apresenta nos próximos dias 16 e 17, em João Pessoa e Campina Grande, respectivamente, o show Humano, demasiado insano (2021), título de seu EP mais recente, que conta com produção musical de Kaneo Ramos. Os eventos irão ocorrer no Café da Usina, na capital, e no Campina Grill Restaurante, na Rainha da Borborema, sendo neste último com a participação especial da cantora Savanna Aires. Os ingressos estão disponíveis na plataforma Sympla.
Conciso, Renan se considera um cantor “anônimo”, mas nem por isso isento ou acomodado. Tem como pátria a MPB e trabalha pela transformação social. “Sou preto, pobre, nordestino, médico do SUS, discípulo de Caetano, Chico Buarque, Chico César, Gilberto Gil. Não sou da elite e meus sonhos, e minha ética de vida, são voltados para o bem-estar do povo, para o fim das desigualdades, do racismo, da misoginia e da intolerância”, ressalta.
Diante de tempos tão sombrios, o artista acredita em um futuro melhor para todos. “Tenho fé e esperança de que o amor vai voltar a brilhar no Brasil. Torço para que o ódio, que emergiu com tanta violência e virulência, volte para o reino das sombras. Tem tanta coisa para e extirpar: a fome, a violência contra as mulheres, a precariedade da educação… Meu canto é também sobre isso. Mas sou um romântico incorrigível, e falar de vida, apaixonamento, escolhas, liberdade, também é importante pra mim”, afirma Renan Barbosa.
No roteiro do show estão quatro das cinco músicas do novo EP, além de canções do EP Não sou melhor do que tu (2019); do CD A voz do agora (2014); clássicos da MPB, de Jards Macalé a Djavan, e fortes canções da cena atual, de Socorro Lira a Rômulo Fróes.
Como os dois shows acontecerão durante o período eleitoral, é possível que haja algum tipo de manifestação política por parte do público. Caso aconteça, Renan avisa que serão intervenções bem-vindas. “Num show, plateia às vezes resolve se manifestar, principalmente quando conhece o pensamento, a trajetória e a alma do artista. É uma manifestação legítima e bem-vinda. Vivemos tempos assombrosos, e muitas pessoas têm a necessidade de expressar seu desejo de mudança.”
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Lição de voto
Renan vem acompanhado por Kaneo Ramos na guitarra, Rainere Travassos no baixo e bateria a cargo de Kamilo Lima. Versátil, o intérprete passeia entre gêneros diversos, com arranjos que transitam entre o pop e o rock. O resultado é um show intenso e provocativo, no qual as loucuras e paixões humanas são abordadas, mas sem perder o tom de esperança e celebrando o amor, a delicadeza e a conexão real entre as pessoas.
Renan e Kaneo trabalham juntos desde 2015, e desenvolveram uma relação de cumplicidade, sintonia e perfeccionismo que transparece em cada detalhe, nas dezenas de shows e nos dois álbuns que produziram juntos, nas composições em parceria e na pesquisa de uma sonoridade que casasse com a voz aveludada, mas intensa, do intérprete paraibano.
Já se vão 33 anos desde que Renan Barbosa iniciou sua carreira artística, participando de um festival de MPB com uma canção de sua autoria. Paraibano de Campina Grande, ele passou, desde então, a compartilhar seu tempo entre duas grandes vocações: a música e a psiquiatria — especialidade médica que ele concluiu em 1993, no Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão Preto.
Naquela época, Renan já deixava claro seu caráter múltiplo e singular. E pelo interior paulista levou seus projetos musicais a teatros, casas de shows e unidades do Sesc. Até que, em 2005, mudou-se para a capital paulista, onde reside até hoje.
Na cidade de São Paulo, Renan expandiu as parcerias de criação e se cercou de grandes músicos e produtores, alcançando maior visibilidade e consolidando uma sólida trajetória, sem se desgarrar das raízes nordestinas. Em 2011, foi o idealizador, produtor e um dos intérpretes do show Os homens de Chico, em três sessões com ingressos esgotados no teatro do Sesc Pompeia.
Em 2012, como integrante do Coletivo Cabeu (ao lado de Adriana Petroni, Mário Martinez e Fabio Cadore), lançou EP homônimo, com show no SESC São Carlos. Por mais de dois anos, o grupo se reuniu para compor a oito mãos. Frutos desse trabalho, cinco músicas entraram no EP; outras foram registradas por Fabio Cadore no CD autoral Instante (a faixa “Ojos de sal”) e pelo próprio Renan, a exemplo de “Canção de Ocaso” (single e clipe lançados na internet), “Delete” e “Estrada” (no CD A voz do agora).
Já em 2014, quando somava 25 anos de trajetória, o artista decidiu ir além do contato ao vivo com a plateia e lançou seu primeiro álbum, A voz do agora. O projeto teve direção musical de Dino Barioni, participações especiais de Toninho Ferragutti e Mário Manga; fotografia de Gal Oppido, e incluiu composições inéditas de Fred Martins, Francisco Bosco, Alice Ruiz, Mário Martinez, Cassandra Véras, Coletivo Cabeu, entre outros.
Em 2019, gravou o EP Não sou melhor do que tu, no qual incorporou uma estética roqueira, inspirado nos ídolos Cássia Eller e Cazuza. Nesse meio tempo, estreou o show Do desejo, fazendo um mergulho no universo do desejo a partir do cancioneiro de Chico Buarque (exclusivamente ao retratar as personagens femininas) e poemas de Hilda Hilst. Com esse show se apresentou por três anos, não sem dar vazão a outros espetáculos, como Viço, Singularplural, Se todo mundo sambasse seria tão fácil viver, A vida se alarga quando um ponto finda e Passagem da noite.
No final de 2019, fez uma participação em uma faixa do CD A babel dos bichos, projeto infantil de Mário Martinez & Adriana Petroni. Nos últimos anos, vem expandindo seu lado de compositor. “Gargalo”, uma de suas parcerias com Kaneo Ramos, faz parte do EP Não sou melhor do que tu (2019). A cantora Maria Butcher gravou a balada “Eterna estrela”. No álbum Sinergia, do músico paulista André de Souza, lançado em 2021, cinco das oito músicas são parcerias de Renan com André, com destaque para “O tom da cidade”.
Renan precisava voltar ao estúdio e aos palcos. Agora é a vez do EP Humano, demasiado insano, gravado em São Paulo, que na retomada pós-pandemia surge como um alento à arte nacional, apresentando músicas que, de alguma forma, refletem o conflito do ser humano contemporâneo em relação ao tempo, aos seus desejos, às suas aspirações e ao seu papel no planeta.
O EP do artista pode ser conferido no site www.renanbarbosa.com, assim como nas principais plataformas de streaming e no Youtube (@editorenanbarbosaoficial). Seu trabalho também pode ser acompanhado pelas redes sociais Instagram e Facebook pelo @oficialrenanbarbosa.
Serviço:
Show em João Pessoa
Dia: 16 de setembro, às 21h
Local: Café da Usina
Ingressos: https://www.sympla.com.br/evento/show-humano-demasiado-insano-com-renan-barbosa-e-banda/1687939
Show em Campina Grande
Dia: 17 de setembro, às 21h
Local: Campina Grill Restaurante
Ingressos: https://www.sympla.com.br/evento/show-humano-demasiado-insano-com-renan-barbosa-e-banda/1688105
Com informações da assessoria de imprensa