O direito do torcedor e das torcidas organizadas foi o tema de uma sessão especial realizada na tarde dessa segunda-feira (19) na Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP), por propositura do vereador Junio Leandro (PDT). O parlamentar enfatizou que convidou para a sessão representantes da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e do Ministério Público Estadual que, entretanto, não compareceram. “Fico triste com a ausência porque quando eles se reúnem para discutir assuntos de interesse das torcidas, elas não são ouvidas e nem opinam. As decisões vêm de cima para baixo e as torcidas têm que cumprir”, disse Junio na abertura dos trabalhos.
Ele questionou o motivo pelo qual há regras diferentes para torcidas de João Pessoa e Campina Grande e exemplificou com a proibição de venda de bebidas alcóolicas nos estádios da capital paraibana, enquanto que esse comércio é autorizado na Rainha da Borborema. “Nunca houve caso de violência motivada pelo consumo de bebida alcóolica. Aliás, essa atitude não tem efeito algum porque as pessoas bebem do lado de fora e entram no estádio sob efeito do álcool”, citou o vereador.
Junio ainda lembrou de decisões controversas e “arbitrárias” recomendadas pelo MP, autorizadas pela Justiça e acatadas pela PM. “Aqui em João Pessoa, o MP entra com pedidos para que haja torcida única e teve um dia em que queria proibir a torcida do Naútico de vestir a camisa do time. É um absurdo! Eu mesmo já fui ao estádio uma vez e somente na hora do jogo foi avisado que não se poderia entrar no estádio com material da torcida. Quem já tinha comprado ingresso com antecedência não pôde entrar porque nem botando a roupa pelo avesso era permitido. São decisões arbitrárias”, reclamou Junio, citando ainda um caso de violência contra torcedores no qual ele mesmo chegou a ser agredido: “Não vi nenhuma providência do MP sobre isso”.
O entendimento do vereador é de que em caso de punições, a pena deva ser aplicada ao indivíduo que transgrediu a lei e não extensiva a todos os membros da torcida. O parlamentar ainda citou que deveria ser reconhecida a função social dessas organizações que atuam com campanhas solidárias nas comunidades da capital paraibana. “Precisamos mostrar as ações sociais que são feitas pelos torcedores em locais em que o Estado não chega. Isso, muita gente do poder público e da imprensa não conhecem. Não devemos criminalizar o torcedor organizado. Eu mesmo sou integrante de torcida organizada, tenho orgulho de frequentar a arquibancada sol e vou usar esse espaço para divulgar o que fazemos. Precisamos estar unidos”, disse, exibindo no telão do plenário fotos das ações.
Outra queixa feita pelo vereador foi pelo que ele chamou de excesso de rigor do Corpo Bombeiros para autorizar o uso de fogos nos estádios. “A gente tenta fazer festa e para colocar material pirotécnico é uma burocracia imensa”.
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Na sequência, foi a vez do pesquisador, jornalista e antropólogo Phelipe Caldas ir à tribuna. Ele, que estuda a relação de torcedores organizados há cinco anos, parabenizou o vereador pela iniciativa de discutir o papel das torcidas. “Esse debate é importantíssimo e não pode acontecer sem que se discuta a violência policial. Criaram uma imagem de ‘torcedor de risco’, de maneira preconceituosa e partindo de conceitos abstratos instituições públicas utilizam para se sentirem autorizadas para à revelia da lei ‘conter’ torcedores que supostamente seriam violentos antes mesmo que eles agissem contra a lei de alguma maneira. Existe uma frase muito repetida de que ‘isso não é torcedor, isso é marginal’ para tirar do indivíduo o seu direito de torcer”, explicou.
Phelipe pontuou ainda que são realizadas diferentes tipos de abordagens pelos policiais dependendo do espaço que o torcedor vá ocupar no estádio ou se estiver vestindo indumentária que o identifique como membro de torcida. “Eu já levei um baculejo, uma ação violenta que teve até revólver em punho na minha direção, quando estava com uma camisa da TJB [Torcida Jovem do Botafogo]”.
Representando as mulheres torcedoras, Ana Beatriz, diretora de marketing da TJB, disse que há muitas mulheres frequentando os jogos de futebol: “Somos estudantes, trabalhadoras, mães de família e estamos presentes e lutando por respeito. Nós nos posicionamos contra as medidas de repressão e estamos onde o MP e as instituições de segurança não estão fazendo o que o Estado não faz. Vemos muita violência policial e é algo que debatemos muito. Há tratamento diferente para pessoas dentro do mesmo estádio e questionamos o motivo disso porque a arquibancada sol tem uma revista mais rigorosa e violenta. Entendemos que não há interesse do MP em estabelecer o diálogo conosco. Podem tirar nossos sinalizadores, nossos uniformes, mas não vamos ficar calados”, enfatizou.
Na mesa dos trabalhos, estiveram vários representantes de torcidas organizadas como Manoel Pontes, da Torcida Belo Roots; Márcio Raniery, da Bonde Mesa de Bar; Thiago Almeida da Fúria Independente; Wilson Neto da Torcida Jovem do Botafogo; Felipe Ricarte, da Império Alvinegro.
Fonte: CMJP