As eleições presidenciais deste ano mostraram um Brasil dividido. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito para seu terceiro mandato à frente da nação com 60,3 milhões de votos (50,90%) contra 58,2 milhões de votos (49,10%) de Jair Bolsonaro, que entrou para a história como primeiro presidente a tentar a reeleição e sair derrotado. Olhando a diferença nos dois milhões de votos pode parecer pouco, mas Lula venceu a máquina, a guerra religiosa, o jogo sujo nas redes sociais com as fake news e até o aparelhamento do Estado, com a PRF, com tudo. Hoje é fácil declarar apoio a Lula, pois a tendência passada a disputa é estar do lado de quem vence, mas no auge do confronto social, empresários paraibanos arriscaram até perder clientes ao declarar voto em Lula.
Claro que não foram somente os empresários paraibanos que declararam apoio a Lula. Órgãos internacionais, revistas científicas, imprensa mundial, artistas e até o santo papa olhavam com preocupação para as eleições no Brasil por entender que não se tratava de uma simples disputa entre projetos políticos. O que estava em jogo no país era a democracia. De um lado um ex-presidente que comandou o Brasil por oito anos e foi responsável por tirar o país do mapa da fome e reduzir as desigualdades; do outro, o presidente que negou a pandemia, fez pouco caso das vítimas, atrasou a compra das vacinas, cortou a verba das creches e da merenda escolar, além de repetidamente atacar as instituições democráticas e os Poderes constituídos em acenos antidemocráticos.
Foi essa a percepção dos empresários: algo muito maior estava em jogo. Mesmo num cenário onde poderiam perder clientes insatisfeitos com a opção por um dos lados, escolheram a defesa da democracia.
Antes mesmo do primeiro turno das Eleições, em 2 de outubro, a empresária de 56 anos conhecida como Tia Cris, da Soparia da Tia Cris, em João Pessoa, resolveu declarar, por meio de suas redes sociais, o voto dela e de sua família em Lula. O posicionamento foi suficiente para que uma onda de ataques organizada por bolsonaristas atingisse a empresa. Mensagens de ódio e ameaça de boicote foram dirigidas ao perfil da soparia no Instagram.
Mesmo diante dos ataques e do ódio disseminado, Tia Cris não recuou. “Basta!! Nós não vamos mais permitir que utilizem de mentiras e enganações para tentar fazer lavagem cerebral no povo brasileiro, nós merecemos um país igual e justo”, publicou Tia Cris, antes do segundo turno.
Se houve boicote por parte dos clientes, por outro lado Tia Cris ganhou uma nova legião de apoiadores, em solidariedade à violência sofrida nos ataques dos bolsonaristas. “Vou comprar a você só porque você vota em Lula kkkkk. Brincadeiras à parte, já soube que sua sopa é super deliciosa”, disse uma seguidora.
Dias depois dos ataques e passada a eleição, Tia Cris agradeceu todo o apoio recebido. “Minha casa lotou ontem, mas não foi as vendas que deixaram mais feliz, foram o afeto, os abraços, as conversas inteligentes. Que bom, sinto e sempre soube que estou do lado certo da história”, publicou a empresária.
Uma das empresas precursoras dos protestos contra o Governo Bolsonaro, a Autêntica Pizza da Lambreta fez mais do que apenas falar mal do atual presidente. Deboche era a palavra de ordem na pizzaria paraibana. Não à toa eles aparecem em todas as listas nos grupos bolsonaristas que elencam empresários apontados como “comunistas”.
A provocação começou muito antes das eleições, ainda em julho de 2021, quando a pizzaria lançou o sabor “paunomito”. Trata-se de uma pizza com bastante palmito, mas o ingrediente principal é a política. A repercussão com o nome do sabor foi tanta que teve destaque na imprensa nacional. Com a visibilidade da empresa, um cidadão descontente protocolou denúncia no Ministério Público Federal (MPF), porém o caso foi arquivado.
Apesar dos ataques, o empresário Thiago Ferreira não se intimidou e seguiu provocando. Após a vitória de Lula no segundo turno já houve pizza por R$ 13 reais, pizza comemorativa e, agora, a nova tendência para os bolsonaristas que contestam o resultado das eleições e promovem protestos em frente aos quartéis: a pizza impressa.
Para ajudar a quem quer incentivar empresários que decidiram se expor em defesa da democracia, diversas listas têm surgido nos grupos de mensagens privadas e nas redes sociais abertas. O perfil Qual é a Boa, Jampa, que tem como foco divulgar eventos culturais na cidade, tem usado sua visibilidade para apoiar os empresários paraibanos. Eles foram os primeiros a listar quais são os empreendimentos da cidade comprometidos com o bem-estar social.
Mas nem só quem está alinhado ao presidente Lula anda contribuindo. Ao passo que os bolsonaristas criam listas de “empresários comunistas” com o intuito de promover boicote a estes empreendedores, as mesmas listas que circulam entre os extremistas da direita têm servido para divulgar e ampliar o alcance dos empresários que defendem a democracia e hoje, apesar da tentativa de isolamento, estão sendo recompensados com o reconhecimento do trabalho associado à postura política. Confira abaixo uma lista elaborada por bolsonaristas com nomes de empresários e empresas que defendem a democracia na Grande João Pessoa:
Auto posto Intermares
Óticas River
Lambreta Restaurante
Autêntica Pizza
Sky Bar
Paraíba Burguer
Free Running Edson Ramalho
Bubba e Teco ( Edson Ramalho)
18 Kilates ( Manaíra Shopping)
Colégio IPEI
Restaurante Du Bistrô
Manaíra Autentica
Magazine Luiza
Banco Itaú
Havaianas Tambaú
A pizza do filho de Freddy da Adega
Apetitus
Thayse Gomes fotógrafa
Renata Pinto maquiadora
Richards
Osklen
Soparia da Tia Cris
Kopenhagen
Apetitus
Noha