A primeira audiência pública para discutir o alargamento da faixa de areia da orla de João Pessoa deixou a Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) completamente lotada na tarde desta segunda-feira (6). Presidida pela deputada Cida Ramos (PT), que tem feito oposição firme ao mal explicado projeto do prefeito Cícero Lucena, a sessão refletiu a repercussão referente ao tema, hoje a principal pauta de debate na cidade, pois além de possíveis riscos ao meio ambiente, a proposta mexe com o ordenamento urbano da capital e pode resultar na brecha necessária para a construção de espigões à beira-mar.
Não cabia mais ninguém no Plenário da Casa, assim como nas galerias. Havia gente sentada até no chão. Faixas em protesto à proposta de Cícero foram exibidas nas dependências da ALPB. Logo no início dos trabalhos, a deputada Cida Ramos ressaltou a necessidade de se discutir o assunto com a população. “Nós estamos tratando do amanhã de um dos maiores patrimônios materiais e imateriais do povo paraibano que é a orla de João Pessoa. Estamos só começando o debate. Nada sobre qualquer proposta de alargamento pode ser colocada sem que tenha cada um de nós, independente de termos mandato ou não, discutido e sabendo o que vai ser feito na orla”, afirmou a deputada Cida Ramos.
O ponto alto da audiência pública foi durante a explanação do professor Saulo Vital, do Departamento de Geociências da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). “Gostaria de dizer que a minha grande motivação é científica. Não tenho nada contra a pessoa do prefeito, nem do governador, mas a favor da ciência. Em tempos tão difíceis que nós passamos nos últimos quatro anos, de negacionismo, onde a ciência foi colocada em xeque, nós, enquanto professores e pesquisadores, precisamos nos posicionar”, disse. Vital ministrou uma verdadeira aula no Plenário da ALPB, apontando os riscos da proposta de alargamento da faixa de areia. Ao final, foi aplaudido de pé pelos presentes.
A audiência pública proposta pela deputada Cida Ramos mobilizou centenas de pessoas, em modo presencial, lotando as dependências da ALPB, assim como por meio da internet. Usuários de todo o país assistiram à transmissão ao vivo e interagiram em tempo real através de comentários no canal do YouTube do Legislativo paraibano. Paulo Horta, de Santa Catarina, destacou os erros cometidos com a engorda das praias de lá. “Aqui em Santa Catarina fizeram alargamentos, alguns ficaram milionários, e a população ficou com as praias poluídas, impróprias para o banho, vivendo uma epidemia de diarreia! É isso que querem?”, questionou.
Além de parlamentares, estiveram representados a organização social Minha Jampa, o Greenpeace, a Associação de Protetores e Amigos da Natureza (Apan), e o Fórum do Plano Diretor Participativo de João Pessoa. A Prefeitura Municipal de João Pessoa foi representada pelo secretário do Meio Ambiente, Welison Silveira, que concordou com a criação de um fórum envolvendo órgãos públicos, políticos, cientistas e membros da sociedade civil.
Representando o Greenpeace, o ativista Ruan Navarro ressaltou o posicionamento da instituição contrário à proposta. “Somos contra o projeto do alargamento, mesmo que os estudos ainda não tenham sido abordados, e é justamente por conta disso. Nenhum setor científico da Paraíba, nenhum pesquisador, que é quem conhece a orla, foi convidado para os estudos. O segundo ponto é o espelho ser Balneário Camboriú, que na prática a gente observa o desgaste ambiental que a praia sofreu”, afirmou Navarro, que é um dos coordenadores do Greenpeace em João Pessoa.
A mobilizadora Thalita Dantas, da organização social Minha Jampa, responsável pelo abaixo-assinado que reuniu mais de 22 mil assinaturas de pessoas contrárias ao projeto do alargamento da orla de João Pessoa, falou sobre a atuação da entidade no processo. “A gente vem monitorando entrevistas do prefeito desde 2021. Quando ele novamente vem a público e diz que vai iniciar a obra, vimos a oportunidade de, além de monitorar, pautar esse assunto na sociedade. Não tem como tomar uma decisão dessas sem consultar a população, um projeto que vai modificar a vida de todo mundo”, disse Thalita.
Débora Suellen, estudante de Ciências Biológicas da UFPB, fez questão de participar da audiência pública devido à importância do tema em debate. “A gente tem que priorizar o meio ambiente, já que depois de nós virão outras gerações”, disse a estudante, que também acusou o prefeito Cícero Lucena de estar “fugindo do povo”. A estudante de Arquitetura, Bianca Gondim, afirmou que “esses interesses são de construtoras, de gente que mal usufrui daquela área, usufrui de ambientes fechados e querem interferir num ambiente que nem tem valor para eles”.
Fonte: Assessoria de imprensa