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De Motta a Nabor, obra tem 7 anos de atraso e não será entregue no prazo; Prefeitura de Patos vira alvo do MPF
Laura de Andrade - sob supervisão de Felipe Gesteira
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É senso comum entre a população patoense: a construção do Teatro Municipal de Patos parece não ter mais fim. Iniciada em 2013, durante a gestão da ex-prefeita e atual deputada estadual Francisca Motta (Republicanos), a obra passou por outras gestões e hoje é tocada pelo mesmo grupo político e familiar, com o seu ex-genro e atual prefeito de Patos, Nabor Wanderley (Republicanos), que também é pai do deputado federal Hugo Motta (Republicanos). Em 2020, o Ministério Público Federal (MPF) abriu um inquérito para investigar a demora para a finalização da obra e determinou um novo prazo para sua entrega, que está prevista para o mês de abril deste ano. A prefeitura já adiantou que o prazo não será honrado.

O convênio Siafi nº 773771/2012 foi firmado com o Ministério da Cultura no mês de abril do ano de 2013 e até hoje segue com pendências para a entrega, como a sonorização e acústica do ambiente, contabilizando mais de 10 anos de espera aos patoenses. A Prefeitura de Patos, por meio de sua assessoria, admite que o último prazo previsto para entrega, abril deste ano, não será cumprido, e o motivo alegado está relacionado ao processo licitatório, que ocorreu por duas vezes e, nas duas tentativas, nenhuma empresa ofereceu proposta.

Obras do Teatro Municipal de Patos estão com sete anos de atraso (Foto: Google Street View/Reprodução)

O especialista em licitações e contratações públicas Emerson Nóbrega explica que o processo de licitação comum visa selecionar uma proposta para execução de um serviço em prol de se obter, de forma legal, a mais eficiente e quase sempre traduzida naquela que apresenta o menor preço. “Em síntese, é um procedimento seletivo que busca suprir a necessidade de um ente público por meio de uma contratação, através de regras que conduzam à melhor proposta para tal objetivo”, pontua.

Um dos limites para a finalização da obra estava em previsão para o ano de 2015, também não concretizada. Atualmente, a prefeitura garante que a obra será entregue antes do final da gestão, que se estende até o ano de 2024. Enquanto isso, os patoenses seguem com opções de lazer reduzidas e convivendo com uma obra inacabada. As apresentações culturais da cidade, por exemplo, são realizadas em auditórios, como o da Fundação Ernani Sátyro, colégios e praças do município. 

O que pensam os patoenses

Palloma Pires mora em Patos e é mãe de Lorenzo, de 7 anos de idade. Quando o seu filho nasceu, a obra do teatro já estava em construção e, até hoje, ele nunca visitou um teatro. Ela conta que sente a necessidade de mais espaços de diversão na cidade, incluindo um equipamento do tipo. “Fiz alguns questionamentos às autoridades sobre [a entrega da obra], contudo, nunca tive uma resposta sólida e convincente. É necessário que o povo cobre [a conclusão do teatro], afinal, é o nosso direito e o direito dos nossos filhos terem acesso a cultura”, desabafou.

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A associação sem fins lucrativos Coletivo Espinho Branco, conhecida por promover arte e cultura na cidade de Patos, confessa que ainda não há local adequado para apresentações teatrais no município. Eles tentam driblar as inconveniências dos ambientes e, em consequência, contam que é comum se deparar com algumas dificuldades, tais como “a lotação máxima, horários de funcionamento, às vezes a ausência de um palco, dificuldade com o acesso à energia de forma segura, som inadequado e ineficaz, iluminação ausente, falta de segurança do ambiente e dos equipamentos, falta de camarim… já houve eventos onde até tivemos a indisponibilidade de toaletes. Por isso a importância dessa obra. É no teatro onde podemos encontrar soluções para a produção de eventos”.

Oficina promovida pelo Coletivo Espinho Branco na Fundação Ernani Sátyro, em Patos (Foto: Reprodução/Instagram)
Histórico

A obra é proveniente de um convênio entre a prefeitura da cidade, durante a gestão da então prefeita Francisca Motta, juntamente com o governo federal no valor de R$ 2,9 milhões.

Sobre o atraso em obras que não são concluídas, Emerson disse que não é comum que as obras atrasem anos para serem entregues devido a nenhuma empresa oferecer proposta para o objeto que seria licitado. No entanto, essas recebem maior notoriedade, pois não é a condução esperada pela população. Para ele, a solução está em um melhor planejamento e na prioridade em resolver, de fato, o problema. 

“Havendo uma primeira tentativa infrutífera, deve-se apurar o que ocorreu. São de fato os preços que estão defasados? Foi a amplitude da publicidade que não conseguiu atingir o conhecimento de potenciais interessados? Há alguma cláusula contratual ou editalícia demasiada, ou mesmo que se possa retirar? […] O líder público no século 21 deve ser inovador e criativo, sempre observando os limites, mas nunca permitindo que determinado investimento fique rendido a obstáculos, aparentemente instransponíveis, é por isso que a sociedade reclama e foi para isso que lhe concedeu um mandato”, explica o advogado.

Ao assumir a gestão pela terceira vez, o atual prefeito de Patos, Nabor Wanderley, autorizou, no mês de julho de 2021, mais uma etapa da obra. Além disso, no ano de 2022, o governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), também prometeu destinar recursos por parte do Estado. A prefeitura confirmou que atualmente há recursos, e que o grande problema de atraso, no que diz respeito à atual gestão, está associado às licitações desertas. Segundo a gestão, apesar dos atrasos, a obra é prioridade. Eles informaram que quando uma próxima empresa vencer o processo de licitação, a conclusão finalmente acontecerá.

“Vai haver outra licitação. Tendo um vencedor, o ganhador já vai automaticamente. Tem dinheiro em conta, convênio do Estado, para concluir. E ganhando, já dá início à obra”, disse a prefeitura.

O Coletivo Espinho Branco conta que está ansioso para poder receber o retorno adequado deste patrimônio público para os patoenses. No que diz respeito à demora para finalização da obra, dizem: “Quem realmente perde com essa demora é a própria população! A começar que são muitos profissionais envolvidos em um evento […]. São muitos empregos e uma receita que poderiam estar sendo gerados retornando para os cofres público e privado! Esperamos que essa obra não seja alvo ou trunfo político e partidário como é comum de se verificar na nossa cidade. Que seja entregue com qualidade e durabilidade”.

O projeto do Teatro Municipal de Patos

A expectativa é que o teatro comporte poltronas com assentos destinados a pessoas com deficiência, espaço com camarote, sala de controle de som, bem como iluminação. Também são esperados camarins, sala de estar e depósito, escada helicoidal, palco de 8 metros com piso de madeira, banheiros, copa e cozinha.

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