O Ministério Público Federal (MPF) denunciou um homem que agenciou, aliciou e recrutou 12 brasileiros, mediante fraude, com a finalidade de submetê-los a trabalho em condições análogas à de escravo, em Mianmar, antiga Birmânia, no sudeste asiático. O denunciado está preso preventivamente desde dezembro de 2022, em São Paulo. O homem irá responder, perante a Justiça Federal em São Paulo, pelos crimes de organização criminosa, redução a condição análoga à de escravo e tráfico de pessoas.
O acusado cooptava as vítimas por meio de postagens em redes sociais, como Instagram, Facebook e Whatsapp, onde oferecia a promessa de emprego na Tailândia, com direito a remuneração na faixa dos US$ 1.500 mensais, além de alimentação e moradia. Afirmava tratar-se de emprego em telemarketing ou serviço de atendimento ao consumidor. O homem reforçava a mensagem do anúncio com postagens de falso padrão de vida luxuoso que levaria na Tailândia. Ele era remunerado, entre US$ 500 e US$ 1.000, por cada vítima recrutada.
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Ao desembarcarem em Bangkok, na Tailândia, as vítimas, jovens brasileiros, se viam nas mãos da organização criminosa, comandada por chineses, que fazia a travessia das vítimas da Tailândia para Mianmar ilegalmente e as conduzia até uma espécie de “condomínio fechado” isolado, com vigias armados, conhecido como “KK Park”. Ali, sob orientação do acusado, assinavam “contrato de trabalho”, sem poder examiná-lo, e tinham seus passaportes retidos.
O trabalho consistia em aplicação de golpes pela internet. As vítimas eram obrigadas a estabelecer contato com americanos idosos, passando-se por mulheres bem-sucedidas, visando posterior aplicação de recursos em criptomoedas fraudulentas. A parte final do golpe era feita por chineses também escravizados. As jornadas de trabalho chegavam a 14 horas diárias, sob condições degradantes, pouco ou nenhum intervalo para descanso, sendo necessário autorização até para ir ao toalete.
O salário prometido nunca era pago integralmente, sendo aplicadas multas por atrasos, descumprimento de metas, entre outros. Os itens de alimentação e higiene eram cobrados e com preços superfaturados. Despesas médicas também eram cobradas. Caso as vítimas quisessem sair do local antes do término do “contrato de trabalho”, deveriam ressarcir os custos das passagens, hospedagem e demais dívidas, cobrando-se delas cerca de US$ 7.500.
Em caso de indisciplina ou denúncia da situação, as vítimas eram encaminhadas para um setor denominado “red line”, onde permaneciam em cárcere privado. As vítimas tinham notícia de que, no mesmo local, eram praticados crimes de tráfico de órgãos, entre outros.
O resgate das vítimas só foi possível após a comunicação dos fatos ao Ministério Público Federal, e foi realizado pelo governo brasileiro, no final do ano passado.
Fonte: MPF