Não é exagero dizer que a tristeza tomou conta da classe artística paraibana na manhã deste Domingo de Páscoa. Morreu na noite desse sábado (8), aos 64 anos, o poeta Juca Pontes. Pai de quatro filhos, Juca era natural de Campina Grande, mas vivia em João Pessoa há mais de 30 anos. Ele estava internado no Hospital Santa Isabel, na capital.
Juca reclamava nos últimos dias de falta de ar. Teve uma piora em casa e foi hospitalizado, com diagnóstico de derrame pleural e um trombo. Houve uma tentativa de procedimento, mas ele sofreu um infarto e não resistiu.
Além de filhos e netos, Juca deixa uma produção consistente. Dentre diversas obras publicadas, é autor de livros como Mar do Olhar, Ciclo Vegetal, Ranhuras do Corpo e Carro de Boi.
Era proprietário e fundador da editora Forma Editorial. Como empresário, atuava também como um verdadeiro agitador pela cultura. Juca tinha a mobilização cultural como propósito e costumava incentivar novos escritores, independentemente de qualquer relação comercial. Gostava de ver livros sendo publicados e acreditava no poder das palavras.
Entre amigos e colegas de trabalho, Juca era uma unanimidade. Gentil como poucos, compartilhava fraternidade no olhar, e será lembrado também por sua doçura. As redes sociais digitais foram inundadas com homenagens ao poeta logo após a notícia de sua passagem.
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O também poeta e escritor Astier Basílio publicou um texto, entre versos e prosa, em homenagem a Juca:
“É, seu Juca, nem deu tempo para um derradeiro abraço, daqueles que só você sabia dar. Cheio de força, verdade e silêncio.
Conheci primeiro tua poesia.
Precisa.
Consisa.
Luminosa.
Como eras.
Poucos trazem no próprio nome o sentido de uma vida, Juca: pontes.
Tua competência e talento atravessaram mandatos, tendências. A iluminar de um sítio a outro.
Na outra margem nos encontraremos, irmão, e, outra vez e sempre, soará o acorde grave da palavra “bacana” debaixo do teu bigode sorridente.”
A atriz paraibana Mayana Neiva também homenageou o conterrâneo: “Sua luz e sua humanidade permanecem em nossos corações. Triste amanhecer com a notícia de sua passagem. Descanse em paz, querido amigo”, publicou.
Diversos políticos também homenagearam Juca, como o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP), e o secretário de Comunicação da capital, Marcos Vinicius.
Juca não era de falar tanto de política, mas nunca foi omisso. Nas últimas eleições gerais, momento em que a democracia no Brasil estava sob risco, Juca tomou partido. Publicou em suas redes sociais dois textos, um sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outro sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
As publicações se deram em virtude do enfrentamento nas urnas. Sobre o ex-presidente, Juca classificou o político como “desclassificado e inqualificável homem público”, e afirmou que Bolsonaro “foi e é forjado pela arrogância e o destempero, pela ignorância e o desespero”. Em seguida, analisou seus seguidores:
“Quem o proclama como mito é porque guarda no sangue o que não é de boa índole. Incrédulo caminhar onde só tem vez ou lugar a voz do desrespeito e despudor, da incompetência e desamor”.
Em outro texto, intitulado “Esperança”, Juca fala do ponto de vista de quem até então nunca tinha votado em Lula. “Agora, é chegado o tempo de tomar de volta o que pertence ao país. E sem medo de ser feliz. É preciso repor o brilho das nossas estrelas, restituir as cores da nossa bandeira brasileira. É hora de trocar armas por livros, mentira por dignidade, desrespeito por afeto, intolerância por humanidade. O amor é a nossa maior esperança. Lula presidente.”
Fato é que poetas não morrem, pois sua obra e a forma como tocam os corações são eternas. Abaixo, um poema de Juca Pontes, publicado no livro “Mar do Olhar” (João Pessoa, Forma Editorial, 2017, 144p.)
Infinito
Rios
de mim
respiram
azuis
sem fim.
Com informações do Jornal da Paraíba.