A padroeira da liberdade, como Rita Lee gostava de ser chamada, deixou um presente inédito e valioso aos fãs antes da sua morte: mais uma autobiografia. Entre os capítulos, um deles foi intitulado de “A garotada”, onde a cantora se mostra carinhosa e solidária com o público de fãs LGBTs. “Dá vontade de pegar todos no colo e cantar baixinho no ouvido deles: ‘Você não está só, é só um nó que precisa ser desfeito’”, escreveu.
Rita morreu aos 75 anos, no dia oito de maio de 2023. O lançamento do livro estava marcado para acontecer no dia 22, dia de Santa Rita de Cássia. Ou seja, pouco menos de quinze dias separaram Rita do lançamento da sua última obra “Outra autobiografia”. Os textos focam nos últimos três anos, nos quais Rita atravessou uma pandemia e um diagnóstico e tratamento contra o câncer.
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Entre as páginas, a cantora e escritora relembra a história de um menino homossexual que sofreu com a não aceitação da família por sua orientação sexual. “(…) [ele] disse que pensou até em desistir da vida, mas que ao ouvir as minhas músicas, decidiu ficar”, conta. Ainda sobre o assunto, confessa que se emocionava quando os fãs escreviam que não são aceitos na família, mas que as músicas são um tipo de companhia que os liberta nas horas de solidão.
Uma artista sempre à frente da sua época
Antes dos beijos entre pessoas do mesmo sexo marcarem as novelas, Rita exibia, em 1997, o videoclipe da canção “Obrigado não”, em que dois militares se beijavam na boca. Na época, o tema era tabu, mas a personalidade da cantora ia contra a imposição. E isso é perceptível até mesmo no nome da música, que afirma “obrigado não” no sentido de que ninguém deve ser obrigado a seguir padrões pré-estabelecidos pela sociedade, ao contrário do que seria caso ela optasse por uma vírgula separando as duas palavras. “Legalize o que não é crime, recrimine a falta de educação”, diz um trecho da letra.
“Queria dar beijinhos e carinhos sem ter fim nessa moçada e dizer a ela que a barra é pesada mesmo, mas que a juventude está a seu favor e, de repente, a maré de tempestade muda”, deseja Rita.
Rita finaliza o texto com a frase: “Meninada, sintam-se beijados pela vovó Rita”. Um último afago que, na verdade, deve não ser exatamente o último, já que o legado da padroeira da liberdade pode ser revisitado nos seus livros e nas suas canções.