ads
Geral -
Destruição de área verde gera revolta em Barra do Mamanguape; prefeitura justifica obra como legal
Laura de Andrade - sob supervisão de Felipe Gesteira
Compartilhe:

O início do mês de junho foi marcado pela revolta da população de Barra do Mamanguape, distrito de Rio Tinto, ao ser divulgado na rede social digital Instagram, no perfil oficial do município, uma nova obra da prefeitura: a construção do Centro de Apoio ao Turista. No entanto, a prefeitura acha que sabe o que é melhor para a comunidade local sem sequer considerar o que ela tem a dizer. Na mesma rede social, parcela da população que reside na Barra e turistas que visitam o destino com frequência são contra a ação que desmata a área e se queixam que não foram consultados.

“Um turismo sem relação com a comunidade é apenas destruição recreativa”, comenta um internauta no perfil oficial de Rio Tinto, no Instagram. Por sua vez, a Prefeitura de Rio Tinto justifica possuir comprovação legal emitida pela Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema) para a construção na área, ataca a população acusando moradores e turistas de “desinformados” e atribui a discordância à oposição político-partidária.

Barra do Mamanguape fica localizada a 63,7 km de João Pessoa (Foto: Reprodução/Google Maps)

O projeto promete dispor de praça de alimentação, banheiros e chuveiros para quem visita as praias do litoral. No mesmo espaço, também teria um letreiro turístico com a frase “Eu amo Barra”. A prefeitura de Rio Tinto, que tem como gestora Magna Gerbasi (PP), apresentou a licença prévia de nº 0065/2023, emitido pela Sudema, que comprova a legalidade da construção e afirma que o local é particular.

Prefeitura diz que obra é legal

“Toda construção um dia derrubaram árvores. Tem licença da Sudema e ICMbio [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade]”, disse o diretor de Turismo e Meio Ambiente, Wellington Juba, que atribuiu a revolta da população a uma “desinformação da própria comunidade em não saber que o projeto tem a liberação e a questão político-partidária, ‘picuinha'”, disse, desconsiderando, assim, a opinião dos próprios cidadãos que elegeram a sua gestão e turistas que, supostamente, pretendiam agradar. “O terreno foi doado, é particular. Ou seja, se é particular, ele tem o domínio, então foi doado ao município e ele também não atinge os 150 metros até a praia, que é o que o Planjo de Manejo proíbe, então tá tudo regularizado”, finalizou.

Veja também
Supremo bate o martelo sobre quem fica com vaga aberta por cassação de Dallagnol

Apesar do orgulho da Prefeitura de Rio Tinto em trazer a nova obra, parcela da própria população e turistas que frequentam o local se posicionaram contrários às mudanças prometidas, e que já foram iniciadas. Um exemplo é Maria Cláudia Amorim, que começou a frequentar o local no ano de 2020. De lá para cá, o visitou cerca de dez vezes e pretende morar em Lagoa de Praia, a 3km da Barra do Mamanguape. Ela é uma das visitantes que se preocupam com a iniciativa da prefeitura e defende que a gestão não está se atentando ao impacto ambiental que será causado.

“Até entendo a necessidade de uma estrutura com chuveiros e banheiros, por exemplo. Mas essa descaracterização e destruição, disfarçadas de progresso, não me parece que esteja sendo feita levando em consideração o impacto ambiental ou as reais necessidades e vontades de quem vive ali. Acredito que nem os turistas querem isso dessa forma. Lugares com letreiros e lojinhas estão cheios por aí, não é isso que atrai o turista que frequenta a Barra. A Barra não precisa e nem pode virar o pôr do sol do Jacaré!”, disse Maria Cláudia.

Carla reside na Barra de Mamanguape há três anos (Foto: Reprodução/Instagram)
(Foto: Reprodução/Instagram)

Gestão contraria vontade da população

A Barra do Mamanguape é um destino que chama a atenção dos visitantes por sua beleza natural que vai desde o azul que se confunde entre o céu e o oceano, os manguezais e o encontro do rio de águas claras com o mar. Os nativos possuem forte ligação com a preservação da natureza, e turistas como Cláudia buscam encontrar o lugar preservado. “A Barra é um lugar apaixonante justamente por conta da natureza quase intocada. É lindo chegar na beira do rio e só ver natureza, quase não existe mais lugar assim por aí”, comentou.

Antropólogo e professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Oswaldo Giovannini se pronunciou em seu perfil pessoal no Instagram. O docente nomeia como ‘arrogante’ a atitude da prefeitura e ainda se queixa que a gestão não age em consonância com a população. “A gente daqui queria pelo menos conversar e isso foi negado pela brutalidade de uma retroescavadeira […] Um poder público que não dialoga, que tem medo do povo e precisa de escolta armada? Que manda o trator passar por cima? Vou continuar plantando meus tomatinhos, fazendo minha casa de sabiá, pedalando e tomando banho de rio ao por do sol, na esperança de que o amor supere a força bruta. E os povos que aqui vivem se abram ao diálogo honesto e solidário”,  lamenta.

Confira o protesto em vídeo do antropólogo Oswaldo Giovannini e, em seguida, a peça publicitária da Prefeitura de Rio Tinto:

Confira a licença prévia concedida pela Sudema


Compartilhe: