A trilha sonora das festas juninas é repleta de canções que remetem às saudades dos amores antigos. Mas para o secretário executivo da Cultura do Governo do Estado da Paraíba e artista, Cicinho Lima, esse sentimento parece ser bem resolvido na sua vida. Se um dia o bolsonarismo incendiou o seu coração, parafraseando a canção “Olha pro céu”, dos compositores Luiz Gonzaga e José Fernandes, hoje é para o opositor de Bolsonaro que Cicinho quer cantar. “Se o Lula me chamar hoje, eu não penso nem dez vezes, eu vou e faço música para ele”, afirmou o secretário.
Cicinho participou da abertura do São João de Patos, na Paraíba, considerado por ele, que também é filho do músico paraibano Pinto do Acordeon, como “o melhor do universo”. Na ocasião, cantou a música “Olha pro céu”. Durante a passagem pela ‘Capital do Sertão’, defendeu que o forró “raiz”, como gosta de chamar o forró pé de serra, tem que ser predominante nessa época do ano, como sinônimo de respeito à tradição das festas. Para isso, defende a criação de uma lei que ajude a cumprir este papel. “Tem que começar a respeitar para que depois não seja tarde”, aconselhou.
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Se de um lado o São João de Patos merece aplausos, do outro, o de Campina Grande é repudiado pelo que aconteceu durante a apresentação do artista monteirense Flávio José. Acontece que o tempo do cantor no palco foi reduzido, com o objetivo de priorizar o show do sertanejo Gusttavo Lima, atitude que indignou Cicinho. “O rei é ele! [Flávio José]”, disse.
O secretário defende a criação de uma lei que priorize a expressão artística tradicional durante o São João. “Gente, não vamos dar as costas para o nosso forró raiz. Ele é tradição. Vamos passar para as crianças pequenas nas escolas. Você que é professor, você que é pai, você que é mãe, vamos passar para a nossa criançada a tradição das quadrilhas juninas que está se acabando. Hoje, parece mais uma escola de samba”, criticou.
Gratidão em forma de voto e o esvaziamento da política
A ligação de Cicinho com a música é de berço, e não é à toa. Cicinho Lima tem como pai Pinto do Acordeon, reconhecido instrumentista, cantor e compositor do ritmo musical que defende como tradição no São João. A admiração é tanta que o sensibilizou a destinar seu voto para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), durante a última campanha presidencial, em gratidão às homenagens concedidas no passado ao membro da família. “Eu votei em Bolsonaro, sim. Por gratidão, ele deu o título de patrimônio cultural ao meu pai, Pinto do Acordeon, e eu acho que o homem deve ser grato. Eu não tenho essa questão de Bolsonaro, de partido. Eu sou muito a pessoa. Se o governo Lula tá trabalhando, eu estou admirando, então vamos seguir em frente com o governo Lula, qual é o problema?”, questionou.
Mais do que apenas grato, Cicinho promoveu motociatas na Paraíba para a campanha à reeleição de Bolsonaro. Além do apoio ao ex-presidente, o hoje secretário do Governo João Azevêdo (PSB) se intitulava como candidato “do presidente”.
Em controvérsia à “gratidão” do passado, atualmente Cicinho Lima não poupa elogios ao primeiro semestre do atual governo, liderado pelo líder da oposição e presidente do Brasil, Lula (PT). Como secretário executivo da Cultura, considera de interesse a condução da Ministra da Cultura, Margareth Menezes, em seus trabalhos, incluindo a regulamentação da Lei Paulo Gustavo. “Era um dinheiro que estava preso e faz parte da Cultura”, disse. E complementou: “Eu tenho gostado dos primeiros seis meses do governo Lula, ele tem trabalhado bem, principalmente para a minha cultura. [O governo Lula] Está de parabéns, a ministra do Ministério da Cultura também, ‘eu só tenho a agradecer’”.
Raízes no bolsonarismo
Cicinho Lima nega a sua participação na organização de motociatas para Bolsonaro. No entanto, prints mostram o seu apoio como promotor, por meio de publicação em rede social digital, o Instagram. Ele argumenta que a campanha lhe deixou sem tempo, mas quando o ex-presidente o convidava, ele se sentia no dever de comparecer, assim como também fará caso Lula o chame. “Minha campanha foi pé no chão, a questão era se ele me convidava para [sic] mim ir em algum evento e cantar alguma música, ele era o presidente, eu tinha que ir. Se o Lula me chamar hoje, eu não penso nem dez vezes, eu vou e faço música para ele também”, finalizou.