“Que utiliza som e imagem na transmissão de mensagens”, essa é a definição do termo audiovisual. O cuidado no fazer cinematográfico é o que dita o conteúdo dessas mensagens, fazendo com que elas perpetuem entre gerações. E nesse processo artístico, a documentação de ideias e acontecimentos faz parte do resgate e divulgação da nossa identidade, sendo esse o intuito principal para a produção da websérie ‘Benedita da Silva: nossos passos vêm de longe’, que fala sobre a vida da deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), um símbolo na luta contra o racismo e pela defesa das minorias.
A série documental conta com cinco episódios narrados pela própria parlamentar. São histórias inéditas, pessoais e da trajetória política de Benedita, que lhe foram marcantes. A obra é uma projeto independente, em celebração aos 80 anos de Benedita, idealizada pelos jornalistas George Pacífico (diretor) e Eduardo Bahia (produtor executivo), com produção da Duozz Filmes.
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Bené, como é chamada pelos mais íntimos, já foi vereadora, senadora e governadora do Rio de Janeiro. Hoje, exerce o quarto mandato como deputada federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Somando ao todo 40 anos de vida política.
Na vida política, Benedita rompeu as barreiras impostas pela política machista da época e se tornou a primeira mulher negra a assumir o cargo de vereadora no município do Rio de Janeiro, em 1983. Em seguida, foi deputada federal na Assembleia Constituinte de 1988, parte da “Bancada do Batom”, grupo de mulheres constituintes, sendo a única parlamentar negra a integrá-lo. Em 1995, a primeira senadora negra do Brasil foi Benedita, também ministra da Secretaria Especial de Trabalho e Assistência Social no primeiro governo Lula.
Assumidamente feminista, Benedita foi a autora da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, que propôs ações emergenciais direcionadas à cultura diante do estado de calamidade pública durante o período da covid-19. Em maio deste ano, coordenou a Bancada Feminina da Câmara dos Deputados, e também foi a primeira mulher negra a assumir o cargo.
O direito das minorias sempre pautou a trajetória política de Benedita. Em 2018, ela relembrou ao Senado Federal as lutas durante a Constituinte. Em entrevista ao portal do PT, a parlamentar afirmou que colocar as terras dos remanescentes dos quilombos e as terras indígenas na Constituição foi um momento único. No Congresso Nacional, foi a relatora da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) das Domésticas, que garantiu direitos aos trabalhadores domésticos, além do projeto que reconheceu Zumbi dos Palmares herói nacional.
Como autora, a trajetória política também foi marcada por obras publicadas. Dentre outras, a Cartilha do Trabalho Doméstico, Direitos e Deveres de Empregados e Empregadores (1996) e Cidadania: uma questão a ser resolvida (1992).
A websérie traz vários momentos da trajetória de um dos maiores nomes da história da política brasileira. O produtor executivo Eduardo Bahia conta que o objetivo dessa produção, assim como a maioria das obras cinematográficas é provocar reflexões, transformar e influenciar ideias.
“Benedita é uma das maiores vozes da política brasileira no enfrentamento ao racismo e na defesa dos direitos das pessoas mais pobres. É uma mulher que veio da favela e é a primeira a ocupar várias cadeiras no Legislativo, como no Senado e na Câmara, então torna-se importante contar essa história. Uma produção audiovisual nunca dará conta de contar a história de uma mulher com mais de 40 anos de vida pública, mas é importante deixar essa contribuição para as próximas gerações”, comenta Eduardo.
A série documental teve a sua primeira exibição no dia 27 novembro deste ano na Estação NET Rio, no Rio de Janeiro. O produtor executivo conta que a intenção inicial é que a websérie seja exibida em salas de cinema acompanhada sempre de um debate, as próximas sessões ainda estão sendo programadas. “É uma produção que não foi pensada com um viés comercial, nosso objetivo é levá-la para um público cada vez maior na perspectiva de provocar a reflexão acerca dos temas abordados, por isso, a gente nesse primeiro momento vai circular a obra nos cinemas, tendo uma apresentação e conversa com as pessoas presentes, inclusive com a presença da própria Benedita”, explica.
O produtor conta que além do viés político e social, a obra busca homenagear a trajetória de Benedita, “isso já quebra um paradigma, porque essas homenagens geralmente ocorrem quando as pessoas já não estão mais em vida, isso proporciona que a própria Benedita possa comentar sobre os acontecimentos apresentados em tela”.
A obra ainda não está disponível no meio digital. Após as exibições em eventos presenciais, eles vão estudar quais plataformas de streaming vão trazer a possibilidade de alcançar mais pessoas com a história de Benedita.
*Sob supervisão de Felipe Gesteira