A Comissão Externa da Câmara dos Deputados entregou ao governo federal um relatório com 22 recomendações para repactuar o acordo de reparação aos povos tradicionais afetados pelo crime socioambiental de Mariana (MG), ocorrido em 2015. O documento, aprovado pela comissão em 12 de junho, foi encaminhado à Advocacia-Geral da União (AGU) para condução junto ao Tribunal Regional Federal (TRT) da 6ª Região.
Nos próximos dias, o relatório chegará aos ministérios dos Povos Indígenas e do Meio Ambiente. As pastas de Igualdade Racial e de Direitos Humanos também devem entrar na lista de entregas, segundo a relatora, deputada Célia Xakriabá (Psol-MG). “[O documento] vai se desdobrar agora [em sugestões] para pensar a gestão da política pública para esses povos e comunidades tradicionais”, explicou.
O relatório de 43 páginas foi concluído após audiências públicas na Câmara e visitas às Terras Indígenas Guarani e Tupiniquim, no Espírito Santo; e à Terra Indígena Krenak e à Comunidade Quilombola de Ilha Funda, em Minas Gerais. São áreas fortemente impactadas pela lama de rejeitos de minério de ferro que se deslocou pelo rio Doce após o rompimento da Barragem do Fundão, da mineradora Samarco.
Célia Xakriabá ressalta a falta de correta consulta aos povos tradicionais sobre a repactuação dos acordos de reparação dos danos socioambientais, que seguem atormentando essas comunidades quase nove anos após o crime de Mariana. “Matar o rio Doce não foi só matar a vida do povo Krenak e dos que tinham 6 anos de idade, 10 anos de idade, e que não vão mais poder banhar naquele rio. O que fica ainda é uma alta vulnerabilidade, quando eles estão ali naquele território, mas sequer têm o direito de plantar, porque o território também está adoecido”, disse.
Entre as 22 recomendações aprovadas pela comissão, estão:
O presidente da comissão especial, deputado Rogério Correia (PT-MG), afirmou que a repactuação deve levar em consideração as demandas específicas dos povos tradicionais, sob pena de continuidade de ilegalidades e violações de direitos. “Dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos. A deputada Célia trouxe essa representatividade e foi até os locais. As pessoas passaram a ter esperança de que estão sendo ouvidas e que, portanto, qualquer repactuação tem que passar por proposta que os atenda”, afirmou.
A deputada Célia Xakriabá disse que, até o fim dos trabalhos da comissão, o relatório será acrescido dos resultados de diligências nas comunidades tradicionais às margens do rio Paraopeba, atingidas pelo crime socioambiental de Brumadinho (MG), ocorrido após o rompimento da Barragem do Córrego do Feijão, em 2019.
Fonte: Agência Câmara de Notícias