Geral -
Polícia pede prisão preventiva de pediatra suspeito de estuprar crianças; família Cunha Lima diverge sobre o caso
Laura de Andrade
Compartilhe:

O caso do pediatra Fernando Cunha Lima, investigado por abusar sexualmente de uma série de crianças, é ponto de divergência entre os familiares da política. Enquanto o sobrinho-neto do médico e ex-deputado federal, Pedro Cunha Lima, presta solidariedade à sobrinha do pediatra, Gabriela Cunha Lima, que diz ter sido mais uma vítima, o ex-vice-prefeito de Campina Grande, Ronaldo Cunha Lima, também parente de Fernando e tio de Pedro, Ronaldo da Cunha Lima Filho sai em defesa do parente investigado por pedofilia. O último, no entanto, sofreu revés na rede social digital Instagram.

Fernando, pediatra suspeito de estuprar crianças (Foto: Reprodução/Youtube)

“Qual é o preço que se paga para manter uma dinastia?”. É assim o começo do vídeo produzido pela jornalista Tatyana Valéria, do portal Paraíba Feminina. É nele que ela comenta sobre o desenrolar do caso do médico investigado por abusar sexualmente de crianças, na Paraíba. Entre elas, a própria sobrinha do homem. “Imaginem o peso que uma criança foi obrigada a carregar para sustentar uma dinastia”, reflete a jornalista.

Veja também
Maioria do STF vota pela condenação de Fátima de Tubarão

Ainda no vídeo, a Tatyana enfatiza que o nome e os sobrenomes do médico são conhecidos e públicos na Paraíba. Segundo a jornalista, Gabriela foi abusada em 1991. Logo depois, Ronaldo Cunha Lima teria se tornado governador da Paraíba. Quando contou ao pai, cerca de um ano depois, nada no campo jurídico aconteceu. 

“Desde o início dos anos 90, essa mesma família [os Cunha Lima], que começou a se estabelecer em Campina Grande, foi crescendo dentro do estado, em uma alternância de cargos entre governador, senador, deputado estadual, federal, conselheiro do tribunal de contas, novamente senador, novamente governador, novamente deputado federal. Uma alternância de cargos de poder do mais alto grau, que se perpetua até a década dos anos 2000”, diz Valéria.

A família Cunha Lima é uma oligarquia na política paraibana. A oligarquia tem como características um grupo de interesse que controla as políticas sociais e econômicas para que sejam beneficiados os próprios interesses.

Caso Gulliver

Tatyana faz uma volta à história de um crime que marcou a história da Paraíba. No dia 5 de novembro de 1993, o então no cargo de governador da Paraíba, Ronaldo Cunha Lima, disparou três tiros contra o seu antecessor, o ex-governador Tarcísio Burity. No dia, ambos almoçavam no restaurante chamado Gulliver, em João Pessoa.

“Naquele momento, eu, enquanto menina, achava que estava presenciando a história acontecendo. O maior escândalo político do nosso estado. 31 anos depois daquele tiro, eu penso que, talvez, o rumo da história da Paraíba tivesse sido outro, se uma família inteira tivesse feito outra escolha. E eu penso mais ainda no peso que uma criança, que uma menina de 9 anos de idade foi obrigada a carregar para garantir o nome de uma dinastia”, refletiu Tatyana.

Todo ato é político?

O material produzido por Tatyana não agradou o parente de Fernando, Ronaldo Cunha Lima Filho. Na publicação da jornalista, o ex-vice-prefeito de Campina Grande chegou a questionar se Tatyana teve filhos, marido, namorada ou pais, além de afirmar que “não tem nada de política” no caso de abuso sexual em que o médico e seu parente é investigado.

“Os políticos que ocuparam cargos e ocupam o fizeram pela força do voto livre da população paraibana. Pelo voto, entende? Mas vc [você] não respeita nada, devia respeitar pelo menos a dor alheia”, disse o filho de ex-governador à jornalista. 

Ronaldo argumenta que não houve nenhuma motivação política na decisão de não denunciar antes o abuso sofrido pela sobrinha de Fernando. Ele afirma que a família “não pode pagar por um ato de um dos seus membros”. “Não concordo com a omissão nem sei dos motivos que a levaram, mas posso te assegurar que não tem nada de política nessa tragédia. Citei a estatística para mostrar que na maioria esmagadora dos casos, não há denúncia. Estes agem por motivações políticas? Claro que não. É como penso”, disse.

Em resposta ao comentário de Ronaldo, internautas escreveram: “casos semelhantes a esses continuam negligenciados para proteger “famílias” de renomes, preservar seus privilégios políticos e tudo que está atrelado a esses privilégios. A família Cunha LiMa está em tudo quanto é instância de poder, a propósito. Lamento por Gabriela e pelo peso que ela carregou devido ao seu sobrenome”, diz Silvia Silva.

Outra internauta, Anita Pereira, afirma que Ronaldo deveria questionar a própria família, e não a Tatyana. “Vc [você] precisa questionar a sua família e não a jornalista que se solidariza com as vítimas de abuso sexual, inclusive a sua parente! Ela foi a vítima e continua sendo! E vc [você] continua defendendo o indefensável? A dinastia?”, questiona.

Pedro Cunha Lima se solidariza com Gabriela

Pedro Cunha Lima cobrou uma punição para as acusações feitas, caso Fernando seja culpado. “Minha solidariedade a Gabi, e a cada vítima desse absurdo repugnante. Resta exigir justiça. Que ele pague pelo que fez. A punição para uma barbaridade desse tipo precisa ser exemplar”, escreveu o ex-deputado federal no Instagram.

Entenda o caso

Há duas semanas, a mãe de uma menina de 9 anos desconfiou do comportamento do pediatra que atendia a filha. Ela afirma que chegou a se deparar com a cena de abuso sexual por parte do médico com a filha. Em seguida, denunciou o pediatra. A Polícia Civil abriu um inquérito para investigar o caso e pediu a prisão preventiva de Fernando.

Fernando Cunha Lima tem 81 anos e mais de 50 anos de profissão na área da pediatria, em João Pessoa, na Paraíba.

A repercussão do caso fez com que a sobrinha de Fernando, Gabriela Cunha Lima, de 42 anos, em entrevista, relatasse que também foi vítima do tio. Ainda quando criança, aos 9 anos, Gabriela havia dormido na casa de praia do pediatra, junto de duas primas, uma delas, filha de Fernando. No dia seguinte, ela teria sofrido o abuso.

“Eu não entendi aquele momento que não fui eu, que a culpa não era minha, que não tinha sido eu que tinha provocado”, disse Gabriela em entrevista ao Jornal Nacional.

Segundo o g1, a Polícia Civil da Paraíba está começando a traçar um “modus operandi” das práticas do médico. Segundo o delegado Cristiano Santana, superintendente da Polícia Civil, as vítimas costumam ser meninas entre seus 4 e 9 anos no momento em que foram abusadas, traz o portal. 

O médico tinha o costume de agir no consultório, durante atendimentos e exames, com a mãe da vítima presente ao local, mas aproveitando momentos de distração. “A dinâmica era muito parecida. Existem similaridades entre os casos”, disse Cristiano.

A Lei nº 12.845, de 1º de agosto de 2013, considera violência sexual qualquer forma de atividade sexual não consentida. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Artigo 5º, dispõe que “nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais”.

Com informações de g1 e Jornal Nacional

Compartilhe: