Assegurado pela Constituição Federal de 1988, todo brasileiro tem direito à cidade. A implementação de ciclovias e ciclofaixas pelo poder público é fundamental para garantir espaços urbanos mais inclusivos, seguros e sustentáveis. Pensando nisso, ciclistas se juntam toda última sexta-feira de cada mês para ocupar espaços nas cidades e afirmar que as ruas devem ser acessíveis para todos. Em João Pessoa, o grupo integrado ao movimento “Massa Crítica” voltou a se reunir em 2024.
A Massa Crítica é um movimento mundial que surgiu em São Francisco, na Califórnia, em 1992. Começou como um encontro casual de ciclistas trabalhadores nas últimas sextas-feiras de cada mês, no final do expediente, depois passou a ser organizado, de forma colaborativa, um evento que celebra a bicicleta como meio de transporte que pede por mais espaço e respeito no trânsito.
“Parece pouco, uma vez por mês, mas é uma oportunidade para conhecer pessoas que também acreditam que a bicicleta é o meio de transporte mais eficiente para as cidades, não polui, não paga combustível, promove saúde física e mental, e descarboniza! Também é uma chance de pedalar ocupando a rua e defender o direito à cidade”, afirma a entusiasta da bicicleta e adepta à ideia de autonomia que ela promove, Terezinha Oliveira.
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A descarbonização que Terezinha fala é o processo de redução de emissões de carbono na atmosfera, como o dióxido de carbono, o CO2. O uso da bicicleta como meio de transporte contribui para esse processo.
A “Bicicletada”, como o evento também é conhecido, voltou a acontecer em João Pessoa depois de 11 anos. “Cadê a ciclovia que estava aqui?”, questionam os ciclistas. O pedido de mudança na mobilidade urbana inclui uma infraestrutura segura para os deslocamentos, bem como a criação, manutenção e permanência de ciclovias das cidades, maior segurança e conscientização.
De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), parágrafo 2º, do artigo 29, há uma ordem de responsabilidade no trânsito na qual os veículos de maior porte são responsáveis pelos de menor porte. Ou seja, o maior deve proteger o menor. No entanto, na prática, não é sempre que isso acontece.
Na opinião da ciclista, a bicicleta é um meio democrático para se locomover. No entanto, há desafios: muitos acreditam que as bicicletas não deveriam ocupar as vias, segundo Terezinha. A ausência de infraestrutura cicloviária segura para os deslocamentos, bem como a falta de manutenção e permanência de ciclovias nas cidades são outros problemas enfrentados por quem se desloca sobre duas rodas.
“João Pessoa só tem 20 km de ciclovia, que é a estrutura que nos isola dos carros, o resto é compartilhamento. Há um desrespeito oriundo da falta de entendimento de que as vias devem ser compartilhadas. Isso gera insegurança para os ciclistas que podem sentir que não são bem-vindos naquele espaço”, desabafa a ciclista.
O incentivo ao veículo individual motorizado tem gerado problemas urbanos, incluindo mortes, em diversas cidades. Para Terezinha, a capital paraibana tem potencial para ser uma cidade ciclável, só falta mais infraestrutura. “No geral, ela [João Pessoa] é plana, os deslocamentos casa-trabalho levam cerca de 10km, tem potencial de implementação de arborização, o clima ameno do litoral… A cidade é linda e merece ser vista e vivida mais plenamente. A mobilidade ativa possibilita isso!”, defende.
De acordo com a Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de João Pessoa (Semob-JP), de 2021 a 2025 houve aumento na malha cicloviária de João Pessoa. Atualmente, a capital paraibana conta com um total de 120,20 km de ciclovias e ciclofaixas na cidade. Foram revitalizadas 45 km de malha cicloviária. “O Plano de Mobilidade Urbana (Planmob) considerou a bicicleta como transporte fundamental para a integração com os outros modais e como alternativa viável para a melhoria da mobilidade no município de João Pessoa. Sendo assim, as vias da cidade passam por uma revisão de infraestrutura e obras, o que favorece a ampliação e conexão de todo traçado cicloviário proposto.”, disse a Semob-JP.
Na atual gestão, a Semob-JP afirma que desenvolveu estudos para conectar toda a malha cicloviária de João Pessoa, sem interrupções em seu trajeto, com o objetivo de eliminar toda intermitência durante o percurso, e, assim, contribuir para a construção de uma cidade mais democrática e sustentável.
“A definição dos traçados do projeto é relevante, uma vez que auxilia na determinação das novas rotas integradoras com base na geografia local e necessidade do usuário, estimulando a utilização da bicicleta para deslocamentos diários para o trabalho ou estudo, oferecendo assim mais oportunidades à população”.
Em João Pessoa, o grupo se organiza por meio de uma página na rede social digital Instagram, no @massacriticajp.
