Na noite da terça-feira (4), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, discursou durante uma sessão conjunta do Congresso, marcando sua primeira aparição do tipo desde que retomou o poder. Em sua fala, ele apresentou os principais pilares de sua visão para o segundo mandato. “O sonho americano é imparável”, declarou Trump, em um discurso que entrou para a história como o mais longo já feito por um presidente no Congresso, durando 1h40. A plateia, dividida, reagiu com vaias dos democratas e aplausos dos republicanos presentes.
Em seis semanas de governo, o presidente republicano tomou medidas para reduzir o número de servidores públicos, intensificar o controle sobre a imigração, aplicar tarifas a importantes parceiros comerciais dos Estados Unidos e questionar a aliança transatlântica devido à guerra na Ucrânia.
Abaixo, confira alguns dos destaques do discurso de Trump no Congresso.
Trump abordou a guerra comercial que ele deu início nesta semana, com a imposição de tarifas de 25% sobre produtos do México e do Canadá, além de 10% sobre importações chinesas.
Após dias de instabilidade nos mercados, que reagiram negativamente às medidas, Trump tentou diminuir a preocupação com os possíveis impactos econômicos da guerra comercial.
Quando ele mencionou o tema, o Congresso reagiu com menos entusiasmo. Muitos republicanos permaneceram sentados, demonstrando que as tarifas propostas por Trump geraram divisões dentro do próprio partido.
“As tarifas são sobre tornar a América rica novamente e tornar a América grande novamente”, disse Trump.
“E está acontecendo. E vai acontecer bem rápido. Haverá uma pequena perturbação, mas estamos bem com isso. Não será muito.”
Trump também citou o Brasil: “Em média, a União Europeia, China, Brasil, Índia, México, Canadá e inúmeras outras nações nos cobram tarifas muito mais altas do que cobramos deles, o que é extremamente injusto”.
Ele anunciou que as tarifas recíprocas aos parceiros comerciais dos EUA começarão a valer a partir de 2 de abril.
“No dia 2 de abril, entram em vigor tarifas recíprocas, e qualquer tarifa que nos impuserem, nós também imporemos a eles… qualquer imposto que nos cobrarem, nós os taxaremos. Se usarem barreiras não monetárias para nos manter fora de seus mercados, então usaremos barreiras não monetárias para mantê-los fora do nosso mercado”.
Trump disse no discurso: “Esta noite também tenho uma mensagem para o povo incrível da Groenlândia”.
“Apoiamos fortemente o seu direito de determinar seu futuro. E se escolherem fazer isso, nós os receberemos nos Estados Unidos”, disse Trump, em um aceno aos 56 mil habitantes do país, a maioria do povo Inuit.
A ilha, considerada a maior do mundo, é uma região autônoma pertencente à Dinamarca.
Em ocasiões anteriores, Trump já havia afirmado que a Dinamarca deveria parar de interferir no território para, em suas palavras, “proteger o mundo livre”.
Ele retomou o tema durante discurso no Congresso. “Precisamos da Groenlândia para a segurança nacional e até mesmo para a segurança internacional. Estamos trabalhando com todos os envolvidos para tentar obtê-la. Realmente precisamos dela para a segurança global e acho que vamos obtê-la. Vamos obtê-la de um jeito ou de outro”, disse ele no Capitólio.
A Groenlândia tem grande importância estratégica para os EUA, uma vez que está localizada na rota mais curta para a Europa. Além disso, o território abriga reservas significativas de minerais e petróleo.
Trump mencionou que recebeu uma “carta importante” do líder da Ucrânia no início do dia, que parecia coincidir com uma publicação feita por Volodymyr Zelensky nas redes sociais.
O presidente ucraniano afirmou que estava disposto a colaborar sob a “forte liderança” de Trump para encerrar o conflito e “ir à mesa de negociações o mais rápido possível para trazer uma paz duradoura mais perto”.
“Agradeço que ele tenha enviado esta carta”, disse Trump aos parlamentares americanos.
Zelensky aceitou as condições propostas pelos EUA um dia após Trump suspender toda a assistência militar ao aliado sitiado.
Isso ocorreu depois de uma reunião tensa na Casa Branca na semana anterior, quando os dois líderes discutiram publicamente diante das câmeras, antes de cancelar os planos de assinar um acordo sobre minérios que permitiria aos EUA lucrar com os recursos naturais da Ucrânia.
Analistas diziam que Trump esperava anunciar durante seu discurso ao Congresso que o acordo havia sido finalmente fechado. Mas isso não aconteceu.
Trump fez uma menção especial ao bilionário Elon Musk, que assistia da galeria no início do discurso.
Musk lidera a força-tarefa do recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês), que demitiu dezenas de milhares de funcionários públicos e cortou bilhões de dólares em ajuda externa e em programas em todo o governo federal.
O empresário da SpaceX e da Tesla, vestindo um terno escuro e gravata azul, levantou-se para receber aplausos dos parlamentares.
“Obrigado, Elon”, disse o presidente. “Ele está trabalhando muito duro. Ele não precisava disso.”
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Trump continuou citando exemplos de gastos desnecessários que, segundo ele, foram eliminados pela iniciativa de Musk, provocando risos entre os republicanos.
“Oito milhões de dólares para promover LGBTQI+ na nação africana de Lesoto, da qual ninguém nunca ouviu falar”, disse Trump.
Os parlamentares democratas seguraram cartazes dizendo “Musk rouba” e “mentira”.
O Doge afirma ter economizado US$ 105 bilhões, mas esse número não pode ser verificado de forma independente. Dados foram publicados mostrando economias de US$ 18,6 bilhões, mas erros contábeis foram relatados por veículos de imprensa dos EUA que analisaram os números.
Nos primeiros minutos do discurso, o deputado democrata Al Green, do Texas, foi retirado da Câmara após se recusar a parar de interromper o presidente, desobedecendo às ordens do presidente da Câmara.
Enquanto Trump falava, democratas seguravam cartazes com frases como “Isso é mentira”.
Com os republicanos controlando a Casa Branca, a Câmara dos Representantes e o Senado, os democratas ainda não têm uma liderança clara para enfrentar as políticas de Trump.
Muitas mulheres democratas compareceram à Câmara vestindo ternos rosa em protesto. Dezenas de membros do partido, alguns com a palavra “Resista” estampada nas costas, deixaram o plenário durante o discurso.
“Não há absolutamente nada que eu possa dizer para fazê-los felizes”, disse Trump, aparentemente feliz com o rancor dos democratas.
A liderança democrata escolheu Elissa Slotkin, senadora de primeiro mandato pelo Michigan, Estado onde a vitória de Trump foi apertada, para dar a resposta oficial do partido às políticas do governo.
Ela acusou Trump de uma “doação sem precedentes para seus amigos bilionários” e alertou que “ele poderia nos levar direto para uma recessão”.
Durante o discurso, Trump anunciou a renomeação de um refúgio de vida selvagem no Texas em homenagem a uma garota de Houston que teria sido morta por imigrantes indocumentados.
Jocelyn Nungaray, de 12 anos, foi encontrada morta em junho de 2024 após ser dada como desaparecida. Sua mãe, Alexis Nungaray, foi convidada pela primeira-dama Melania Trump para assistir ao discurso.
Em sua posse, em janeiro, Trump prometeu que seu governo começaria a deportar “milhões e milhões” de imigrantes com antecedentes criminais.
O número de migrantes cruzando ilegalmente a fronteira sul caiu no mês passado para o menor nível em pelo menos 25 anos.
O aumento no custo dos ovos tem sido destaque nas últimas semanas nos EUA. Trump, que prometeu acabar com a inflação, deixou claro quem ele considera responsável. “Como vocês sabem, herdamos, da última administração, uma catástrofe econômica e um pesadelo de inflação”, disse Trump.
“Joe Biden, especialmente, deixou o preço dos ovos sair do controle, e estamos trabalhando duro para baixá-lo novamente.”
Os preços dos ovos subiram durante o governo Biden, após o abate de milhões de aves no ano passado devido a um surto de gripe aviária. Os preços continuaram a subir no início da presidência de Trump.
A inflação anual subiu ligeiramente para 3% no mês passado, mas ainda abaixo do pico de 9,1% em 2022.
Apenas um em cada três americanos aprova a forma como Trump está lidando com o custo de vida, de acordo com uma pesquisa da Reuters/Ipsos divulgada na terça-feira.
Com informações de BBC
