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Crise na BB Seguridade: assédio, desmonte e a suposta tentativa de controle por parte do Centrão
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Nos últimos meses, a BB Seguridade, empresa controlada pelo Banco do Brasil, enfrenta uma grave crise interna após a saída de três funcionários do setor de Controles Internos e Integridade (SCI), responsável por investigar irregularidades e assegurar a conformidade ética na empresa. Os profissionais alegam ter sofrido assédio moral sistemático, culminando em afastamentos por problemas de saúde mental – um deles reconhecido pelo INSS como acidente de trabalho.

Sede do Banco do Brasil em Brasília (Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)

A situação levou ao desmantelamento completo da equipe: nenhum dos membros que integravam a SCI no início de 2024 permanece na função. O Ministério Público do Trabalho (MPT) abriu um procedimento para apurar as denúncias, que envolvem o superintendente executivo Maurício Azambuja e outros gestores, acusados de perseguição, boicote profissional e condutas antiéticas.

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O caso expõe um conflito grave entre compliance e interesses políticos dentro de uma das maiores empresas do país. Se as denúncias se confirmarem, a BB Seguridade poderá enfrentar não apenas consequências jurídicas, mas também uma crise de reputação – especialmente em um momento em que o governo federal enfatiza a pauta anticorrupção.

O assédio e suas consequências

Os relatos obtidos pelo portal g1, incluindo transcrições de reuniões registradas em cartório, revelam um padrão de condutas abusivas:

  • Isolamento deliberado da SCI, com restrição de acesso a informações e reuniões estratégicas;
  • Avaliações profissionais manipuladas, com notas baixas (1 em 5) aplicadas sem justificativa clara;
  • Bloqueio de promoções para funcionários considerados “não alinhados”;
  • Comentários discriminatórios, incluindo relatos de misoginia e homofobia;
  • Redução progressiva de atribuições, como a exclusão da SCI de decisões sobre ética corporativa.

O caso dos “kits executivos” e a retaliação

Um dos possíveis estopins da crise foi a investigação conduzida pela SCI sobre a distribuição de kits de presentes de luxo (no valor de R$ 4 mil cada) para executivos e parceiros em 2023 – prática que violava o Código de Ética do Banco do Brasil. Apesar da devolução dos brindes, nenhuma punição foi aplicada, e a equipe que apurou o caso teria sofrido retaliações.

Além disso, a SCI vinha alertando sobre:

  • Falhas na fiscalização de parceiros comerciais, que expandiam suas operações sem monitoramento adequado;
  • Irregularidades em contratos com grandes empresas, como Mapfre e Odontoprev.

O impacto nos funcionários

Os três profissionais citados na denúncia afastaram-se do trabalho após desenvolverem crises de ansiedade, depressão e esgotamento. Em um dos casos, uma funcionária teve uma crise de choro durante uma reunião após Azambuja declarar que “regras existem para serem flexibilizadas” – afirmação que contraria a Lei Anticorrupção (Lei 12.846).

Um dos funcionários chegou a gravar uma conversa com Azambuja, que justificou uma nota 1/5 em sua avaliação alegando que ele teria tido uma “conversa prejudicial” – sem, no entanto, esclarecer detalhes ou permitir defesa.

Contexto político: a influência do Centrão

A BB Seguridade tem histórico de influência política, com o Centrão buscando maior controle sobre o Banco do Brasil. Em janeiro de 2025, circulou que o grupo pressionava pela substituição da presidente Tarciana Medeiros (indicada por Lula) por André Haui, atual diretor da BB Seguridade e superior direto de Azambuja.

A resposta da empresa

Em nota, a BB Seguridade afirmou que não foi notificada pelo MPT e que mantém um “compromisso inegociável com a governança corporativa”. No entanto, a empresa não comentou os casos específicos de assédio.

“A BB Seguridade Participações S.A. esclarece que não foi notificada pelo Ministério Público do Trabalho. A companhia reafirma seu compromisso inegociável com as melhores práticas de governança corporativa sustentadas por um Código de Conduta e Ética robusto e por um Programa de Compliance e Integridade baseado em processos rigorosos e transparentes, que asseguram o cumprimento das leis, regulamentos, normas e diretrizes aplicáveis aos seus negócios”.

“Todas as denúncias formalizadas por meio de seus canais — disponíveis a funcionários, terceirizados e profissionais parceiros — possuem caráter confidencial e são apuradas com rigor, investigadas e tratadas de forma tempestiva pelos órgãos internos competentes, sendo adotadas as medidas cabíveis sempre que houver comprovação dos fatos.”

Paralelo com outros escândalos

O caso lembra o suicídio de Sérgio Batista, diretor de Controles Internos da Caixa Econômica em 2022, após sofrer pressão no trabalho. Sua viúva move uma ação milionária contra o banco, alegando que o assédio moral o levou à morte.

Próximos passos

O procurador Paulo Cezar Antun de Carvalho analisa as denúncias. Se comprovadas as irregularidades, o MPT poderá mover uma ação contra a empresa. Enquanto isso, o Sindicato dos Bancários de Brasília avalia medidas para proteger os funcionários.

Reportagem baseada em documentos internos, depoimentos e registros cartoriais com apuração do portal g1.

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