Morreu nesta sexta-feira (28), no Rio de Janeiro, aos 85 anos, a escritora Heloisa Teixeira, vítima de insuficiência respiratória aguda decorrente de pneumonia. Seu velório ocorrerá neste sábado (29) na Academia Brasileira de Letras (ABL), com horário a ser divulgado. Ocupante da cadeira 30 da ABL – sucedendo a renomada escritora Nélida Piñon -, Heloisa fez história como a décima mulher eleita para a instituição. Sua trajetória foi marcada pelo pioneirismo no movimento feminista, sendo uma das principais teóricas no Brasil, além de destacada atuação no reconhecimento da poesia marginal.
Idealizadora e fundadora da Universidade das Quebradas, criada em 2009 no âmbito do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC), da Faculdade de Letras da UFRJ, Heloisa articulou uma proposta inovadora de democratização do acesso ao conhecimento. A iniciativa promove o diálogo entre saberes acadêmicos e populares, reunindo experiências culturais e intelectuais de dentro e fora da universidade. Mais de 500 alunos já participaram do projeto.
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Em abril de 2024, levou a experiência da Universidade das Quebradas à ABL com o curso “Machado Quebradeiro”, voltado à formação de escritores. A atividade foi fruto de uma parceria entre a ABL, a Flup (Festa Literária das Periferias), a Universidade das Quebradas e o Instituto Odeon. Reuniu oficinas, palestras e seminários com o objetivo de oferecer ferramentas para que os participantes contassem suas próprias histórias e expressassem suas vivências por meio da escrita.
Durante oito meses, os alunos refletiram sobre temas como “Machado afrodescendente e periférico”, “Machado e a invenção do ser branco no Brasil”, “O teatro negro do jovem Machado” e “O Machado que eu leio”. As aulas, realizadas semanalmente na Biblioteca Rodolfo Garcia, dentro da ABL, reuniram 50 alunos selecionados entre mais de 200 inscritos, sob orientação de autores como Jeferson Tenório e Geovani Martins, além de estudiosos como Ana Flávia Magalhães Pinto e Paulo Dutra.
Em maio do mesmo ano, Heloisa coordenou um ciclo de debates na ABL sobre a questão racial na obra de Machado de Assis. A proposta foi promover uma leitura sintomal de seus escritos e destacar seu engajamento com a causa abolicionista. Na ocasião, Heloisa ressaltou: “A ideia é revelar um novo Machado, visto agora com novas lentes. Afinal, a ABL é a sua casa e tem a responsabilidade de abrir esse debate que, por muito tempo, o afastou do conjunto da população”. Neste ano, o tema do projeto Machado Quebradeiro será Ariano Suassuna.
Outra contribuição marcante de Heloisa foi no campo do feminismo. Defendia-o como uma alternativa concreta para a prática política e para as estratégias de cidadania. Em 2023, ministrou, na ABL, a palestra “Os feminismos de hoje”, em que abordou as velhas demandas e as novas linguagens do feminismo contemporâneo.
Trajetória
Heloisa Teixeira nasceu em Ribeirão Preto (SP), em 26 de julho de 1939. Graduou-se em Letras Clássicas pela PUC-Rio e tinha mestrado e doutorado em Literatura Brasileira pela UFRJ, além de pós-doutorado em Sociologia da Cultura pela Universidade de Columbia, em Nova York.
Foi escritora, professora emérita da Escola de Comunicação da UFRJ e membra efetiva e perpétua da Academia Brasileira de Letras. Sua pesquisa sempre esteve voltada para a relação entre cultura e desenvolvimento, com ênfase em poesia, relações de gênero e étnico-raciais, culturas marginalizadas e cultura digital.
Nos últimos cinco anos, concentrou-se na produção cultural das periferias urbanas, nos movimentos feministas e no impacto das novas tecnologias e da internet sobre a cultura.
Entre suas obras estão “Macunaíma, da literatura ao cinema”; “26 poetas hoje”; “Impressões de viagem”; “Cultura e participação nos anos 60”; “Pós-modernismo e política”; “O feminismo como crítica da cultura”; “Guia Poético do Rio de Janeiro”; “Asdrúbal trouxe o trombone”; “ENTER – Antologia digital”; “Escolhas – Uma autobiografia intelectual” e “Explosão feminista”.
Sua trajetória também foi retratada em produções audiovisuais, como o documentário “O nascimento de H. Teixeira”, que aborda sua vida e obra, e o longa-metragem dirigido por seu filho primogênito, Lula Buarque de Hollanda, que revela aspectos íntimos e públicos de sua vida, com registros feitos ao longo de sete anos.
Fonte: ABL