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Guiana Brasileira: brincadeira inundou a internet de memes e irritou portugueses
Termômetro da Política
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Usuários das redes sociais utilizaram o mapa de Portugal para criar a Guiana Brasileira (Imagem: Reprodução/X)

Nas últimas semanas, as redes sociais foram tomadas por uma onda de humor que transformou Portugal no alvo de um meme brasileiro: a “Guiana Brasileira”. A brincadeira, que satiriza a relação histórica entre Brasil e Portugal, sugere que o país europeu foi “anexado” como o “28º estado brasileiro”, gerando risos entre brasileiros e indignação em parte do público português. O fenômeno, que explodiu em plataformas como TikTok, X e Instagram, reacendeu debates sobre identidade, colonização e os limites do humor na internet.

Origem do meme

Tudo começou em novembro de 2024, quando o clube de futebol espanhol Barcelona anunciou a contratação da jogadora portuguesa Kika Nazareth com a expressão “Fala, galera!”, típica do português brasileiro. A escolha da frase provocou críticas de portugueses, que acusaram o clube de “brasileirismo” e desrespeito à variante lusitana da língua. A reação, liderada por perfis como Resistência Lusitana no X, foi o estopim para a criatividade brasileira. Internautas passaram a ironizar Portugal, chamando-o de “Guiana Brasileira” — uma referência às Guianas sul-americanas, territórios historicamente ligados à colonização europeia.

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A piada ganhou força com vídeos virais no TikTok, onde Portugal é apresentado como uma “colônia do Brasil na Europa”. Cidades como Lisboa foram rebatizadas de “Vitória da Reconquista”, e o país ganhou apelidos como “Pernambuco em Pé” (devido à semelhança geográfica com o estado brasileiro), “Faixa de Gajos” e “Mato Grosso do Norte”. Mapas editados, bandeiras fictícias mesclando as cores do Brasil e de Portugal, e até uma cédula imaginária com o rosto de Cristiano Ronaldo circularam amplamente, consolidando o meme como um fenômeno digital.

Repercussão e controvérsia

Enquanto brasileiros intensificaram a brincadeira com hashtags e check-ins fictícios em locais como “Recife de Lisboa” e “Salvador do Porto”, a recepção em Portugal foi mista. Alguns influenciadores, como Nokas Galaxy, reagiram com humor, elogiando a criatividade brasileira, mas pediram respeito à identidade portuguesa. “Primeiro foi o meme do ouro, depois que falamos um português arcaico, e agora somos uma Guiana? Guiana é um país na América do Sul, não Portugal!”, disse Nokas em um vídeo que ultrapassou 1 milhão de visualizações. Outros, como a tiktoker Bruna Filipa, criticaram comentários sobre o sotaque português, classificando-os como “falta de respeito”.

Dentre os diversos memes, foi criada a moeda fictícia “Gajo” (Imagem: Reprodução/X)

A controvérsia escalou quando uma página falsa na Wikipédia, criada em 18 de abril de 2025, descreveu Portugal como “um território ultramarino do Brasil”. O conteúdo foi removido em minutos, mas capturas de tela viralizaram. No Google Maps, internautas conseguiram registrar temporariamente “Guiana Brasileira” como um ponto em Alcanede, Portugal, reforçando a zoeira.

Do lado brasileiro, muitos justificaram o meme como uma resposta irônica à discriminação enfrentada por imigrantes brasileiros em Portugal. Dados da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR) apontam que, em 2021, houve 109 queixas de xenofobia contra brasileiros, um aumento de 142% em relação a 2018. “O meme é uma revanche simbólica, uma forma de rir das tensões históricas e culturais”, escreveu um usuário no X.

Impacto cultural

O meme “Guiana Brasileira” não é o primeiro embate virtual entre Brasil e Portugal. Em 2016, a “Primeira Guerra Memeal” opôs os dois países em disputas humorísticas sobre expressões linguísticas. Especialistas em cultura digital apontam que o caso atual reflete como o humor pode reacender memórias coloniais e desigualdades. “A internet amplifica essas tensões, mas também cria espaços para diálogo e reflexão”, afirma a pesquisadora de mídias sociais Ana Ribeiro.

Enquanto a “Guiana Brasileira” continua a dominar as redes, o meme expõe tanto a inventividade brasileira quanto as feridas abertas de um passado colonial. Resta saber se a brincadeira evoluirá para um entendimento mútuo ou apenas alimentará mais “batalhas” virtuais entre os dois lados do Atlântico.

Com informações de G1, Exame, CNN Brasil e O Povo.

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