Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
A defesa da democracia não durou sete dias
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Hugo Motta, na posse como presidente da Câmara, disse ter nojo da ditadura; ontem, defendeu golpistas (Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados)

A posse do deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB) na presidência da Câmara dos Deputados foi marcada por um discurso emblemático. Tudo muito bem calculado, tom sereno, conciliador, defesa da democracia, das instituições, e a repetição do gesto icônico de Ulysses Guimarães, que ergueu a Constituição Federal de 1988 no momento de sua promulgação.

Uma pena que esta defesa da democracia prometida por Hugo Motta não tenha durado nem sete dias. Nessa sexta-feira (7), durante entrevista à rádio Arapuan, de João Pessoa, o presidente da Câmara dos Deputados disse que os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 não podem ser classificados como uma tentativa de golpe de Estado.

É isso o que acontece quando o marketing tenta transformar um político em um produto e dar a ele qualquer roupagem planejada. Quiseram fazer de Hugo Motta um conciliador, colocaram de forma muito bem ensaiada a constituição nas suas mãos, puseram na sua boca a defesa da democracia e, para fechar, a referência a Ulysses Guimarães. O resultado foi alcançado, Hugo teve uma semana inteira de menções positivas na imprensa após o tom dado na posse.

O problema do marketing mal calculado para fabricar efeitos é que cedo ou tarde o cliente fica à vontade e revela sua essência, desnudando tudo o que fora planejado, fazendo ruir uma construção de imagem que não passa de um castelo de areia. Dizer que os atos de 8/1 não foram tentativa de golpe é o mesmo que cobrir com panos quentes as ações dos golpistas. Mas não são os mesmos panos quentes que cobrem a imagem de Hugo?

O acordo da direita à esquerda para eleição do paraibano na presidência da Câmara dos Deputados foi importante para dar tranquilidade nas pautas de interesse do Governo Lula. O preço era colocar um parlamentar de direita no poder, e a conta chegou rápido. Mesmo que ele não se alinhe diretamente ao grupo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), as pautas da extrema direita ganham força. A anistia aos golpistas não deveria ser mais discutida, visto que a maioria da população brasileira defende a democracia. O que Hugo disse, em casa, à vontade, foi o que ele pensa de verdade. E tudo o que ele ganhou de positivo na posse, uma semana atrás, veio abaixo.

Ninguém esconde sua verdadeira face por tanto tempo, nem apaga o passado. Vale lembrar que no Governo Bolsonaro, Hugo foi o único deputado paraibano a favor da privatização dos Correios e o único a votar contra a PEC que viabilizava o pagamento do programa Bolsa Família. De tão aliado do ex-presidente, entrou para a lista vip dos parlamentares mais beneficiados pelo orçamento secreto. Ali ele cresceu e pavimentou seu futuro político. Nos quatro anos de Governo Bolsonaro, Hugo Motta votou em 90% das pautas junto ao governo.

Nível de ‘bolsonarismo’ de Hugo Motta nas votações (Imagem: Reprodução/Congresso em Foco)

Além de tirar a máscara do presidente da Câmara dos Deputados, o episódio serviu para mostrar ao Brasil que compromisso com a democracia tem Hugo Motta. Pela gravidade da repercussão, talvez tenha servido também para que sua equipe avalie que agora estão em outro patamar, erros e acertos alcançam proporções muito maiores, e assim possam recalcular a rota. No marketing político, potencializar o que o cliente tem de bom é sempre melhor do que tentar fabricar uma imagem que não existe.

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