Continuamos a viver dias de recordes. Sei que o assunto já está cansativo, que ninguém mais aguenta pandemia, coronavírus, quarentena, lockdown, fecha, abre, decretos, liminares, etc, etc. Fato é que apesar da vacinação progredir no país, parece que ainda estamos longe de ver o dia em que não teremos mortes causadas por Covid-19 no Brasil. Parece que estamos vivendo um verdadeiro reality show, com altos e baixos, níveis de disputas, festas, onde todo mundo aparentemente quer ganhar imunidade a qualquer custo. Não tem dia nem hora para acabar, o jogo apenas segue…

No show da TV há dias tristes, melancólicos. Há dias de risadas e alegrias. Há dias de bate-boca e xingamentos. Há dias de alianças e juras de amor e amizade. Há também dias de despedidas. Em um programa de TV ocorre com quem vai para berlinda e sabe-se que apenas um daqueles é que estará fora do show. Acontece choros e lamentações de um lado, ocorre alívio e agradecimentos do outro. O jogo segue…

No Brasil de 2021 as coisas não estão muito diferentes: Há dias tristes e melancólicos diante de tantas notícias tristes. Há dias de risadas e alegrias em momentos em que aprendemos a valorizar pequenas coisas da vida. Há dias de bate-boca e xingamentos em função de uma politização da pandemia que só potencializa seus efeitos. Há dias de alianças e juras de amor e amizade na tentativa de construção de uma força-tarefa que possa nos fazer passar por estes momentos. Há dias de despedidas quando inconformadamente somos obrigados a enterrar os nossos sem ter direito de dizer até logo, sem direito de lhe prestar uma homenagem. Ao contrário do programa televisivo, entretanto, são muitos que vão para a berlinda e são muitos que estão saindo diariamente. Acontece choros e lamentações de um lado, ocorre alívio e agradecimentos daqueles que conseguem superar a Covid-19. O jogo segue…

Queria mesmo estar em um programa de TV, sem acesso ao mundo exterior, praticamente em uma realidade alternativa, onde não se sabe o que está acontecendo com o mundo, com o país, com seu time de futebol, com seus familiares, com seu bichinho de estimação. Parece um processo de alienação perverso, mas talvez a alienação seja um dos caminhos para se ter o mínimo de saúde mental em dias tão difíceis. Talvez as pessoas dentro daquela casa sejam as pessoas com maior segurança hoje neste país. Eles estão imunes e brigam semanalmente pensando que não estão. O show da vida segue…