Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
A espetacularização de Mauro Cid e a defesa dos direitos como princípio
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Tenente-coronel Mauro Cid durante depoimento à Justiça (Foto: Reprodução de vídeo/STF)

Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi preso, defensores dos direitos humanos e seus apoiadores pediam a preservação dos direitos. Esquerda e direita discutiam sobre o que é justo na garantia de direitos fundamentais, como se assegurar aquilo que é fundamental fosse passível de análise a depender da orientação política do acusado ou do crime cometido.

A extrema direita, vale ressaltar, oscila entre apoiar a violação de direitos contra seus opositores e pedir com veemência para que os direitos dos seus aliados sejam preservados. Basta pesquisar a respeito dos pronunciamentos de parlamentares de extrema direita quando se referem a militares que praticaram tortura no período da ditadura militar.

Hoje, os mesmos que defenderam o coronel Carlos Brilhante Ustra, torturador reconhecido por suas práticas na ditadura, são aqueles que acusam a Justiça brasileira de tortura contra o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A defesa dos direitos humanos não tem lado político. Direitos fundamentais devem ser preservados, independente de quem seja o criminoso. Ao longo da história, seja o acusado de esquerda ou de extrema direita, os defensores dos direitos humanos estiveram do mesmo lado, e assim seguirão.

Na quarta-feira (19), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), derrubou o sigilo da delação premiada de Mauro Cid. A importância dessa delação para o contexto político se dá porque foi com base nela que a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou denúncia contra Bolsonaro pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa. Além do ex-presidente, outras 33 pessoas também foram denunciadas.

O acesso ao conteúdo da delação de Cid é de extrema importância para as defesas dos respectivos denunciados pela PGR, assim como, avalio, de grande interesse público pela relevância do assunto: o país enfrentou uma tentativa de golpe de Estado e um ex-presidente da República pode ser preso. A delação contém o fio de toda a trama e dos envolvidos na operação criminosa.

Até aí, tudo certo no ordenamento jurídico e no que se refere ao interesse público. Achando pouco derrubar o sigilo do conteúdo, o mesmo Alexandre de Moraes liberou no dia seguinte o acesso público a todos os vídeos e áudios gravados durante os depoimentos prestados na delação premiada. Se o conteúdo já não estava mais sob sigilo, qual a necessidade de expor as imagens?

Assistimos nos últimos dias a um novo espetáculo que vem servindo apenas para fomentar a mídia, gerar audiência e achincalhar a imagem de um homem que, por pior que tenha sido, também tem direitos.

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