Jornalista, internacionalista e empreendedora.
Jornalista, internacionalista e empreendedora.
A solidão e a coragem da mulher que empreende
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(Foto: Arquivo pessoal)

Quem empreende, inicia essa jornada por um propósito, por sobrevivência ou pela combinação de ambos. O meu caso foi o último: eu queria largar o meu emprego tóxico, me sustentar e falar sobre a questão da existência feminina, enquanto vendia um produto que eleva a nossa autoestima e autocuidado. Me via rodeada de mulheres, falando sobre mulheres, com mulheres. Me via em meio a uma rede apoio, mas a minha visão era mais um desejo – ou necessidade mesmo, do que se provou uma realidade.

Não é que isso não aconteça, mas, definitivamente, não é o dia a dia da minha caminhada como empreendedora. O que acontece na maior parte do tempo sou eu em meio à tomada de decisões, planilhas, contas, pagamentos, produção de conteúdo, atendimento, expedição, ansiedade, preocupações (e um sem número de outras coisas mais) sozinha. Eu tenho a ajuda, mas a verdade do dia a dia, a rotina inescapável, as nuances do empreender, só eu sinto, sei e vivo. Cada um dos sabores e dissabores. Vivenciados sozinha. E acompanhados do peso de algo que “só depende de mim”.

Me culpo pelas falhas e raramente credito a mim os êxitos. Descobri que gerir o próprio negócio é tão difícil quanto gerir as próprias emoções. E, se o desafio já não fosse grande o suficiente, em um país classificado como o sétimo com o maior número de mulheres empreendedoras pela pesquisa Global Entrepreneurship Monitor 2020 (GEM), realizada pelo Sebrae em parceria com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ), vê-se que o acesso a financiamento e o ambiente de aceleração dominado por homens ainda precisam ser transformados.

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Somos mais de 50 milhões de mulheres empreendendo no Brasil e, independente do tamanho do negócio, eu desafio você a encontrar uma que não compartilhe dos mesmos sentimentos, em especial o da solidão. As experiências são comuns, porque todo o sistema foi criado para nos excluir do jogo. Por isso, nadamos numa força descomunal contra a correnteza, sendo líderes e gestoras, mas exaustas por uma jornada tripla de trabalho, inseguras por um sistema social que nos quer fragilizadas e descontentes com quem somos, desgastadas por um sistema econômico que não nos quer gerando riqueza diretamente, mas trabalhando de graça, dentro das nossas próprias casas.

Enquanto escrevo esta coluna, soube da morte de uma moça jovem de João Pessoa, que, em depressão, tirou a própria vida. Vi no perfil de um comediante da cidade que essa moça também tinha uma loja. Ele postou uma reflexão, inclusive, que considerei muito pertinente, se referindo ao fato de que ela ganhou milhares de seguidores na sua rede social, após a morte. Ele questionou, então, se ela ganharia essa mesma quantidade com uma postagem na sua loja, por exemplo. Bom, eu não posso dizer que a depressão da moça esteja relacionada ao empreendedorismo, porque não a conhecia e nem sei sua história. Mas é fato que o seu empreender não pareceria, aos olhos dessa sociedade doente, tão atraente quanto a sua derrocada.

Transportei essa reflexão para a minha realidade e lembrei-me, nesse momento, da quantidade de vezes que tentei atrair a atenção das pessoas para a minha produção de conteúdo, e o quanto isso me gerou ansiedade e frustração. Quantas vezes enviei publicações para amigos e colegas, pedindo apoio para divulgar o meu negócio, e quantos desses sequer me responderam. Não pude evitar pensar que rapidamente teria muita atenção, se tivesse o mesmo destino que a moça. A atenção que até hoje não consegui, mesmo dispendendo horas e horas de trabalho árduo e contínuo. É como eu te disse, a caminhada é muito solitária. A cabeça não para e esses pensamentos vêm mesmo.

Se a gente não cuida do psicológico e da saúde mental, fica fácil sucumbir. Por isso, o exercício é: mesmo só, mesmo sem fôlego, como diria Dory (a “peixinha” mais amada dos sete mares), continue a nadar. Se você também empreende, é o que eu te digo hoje: continue a nadar. Se precisar, suba à superfície, quantas vezes forem necessárias, para respirar. Recupere o fôlego no seu tempo e mergulhe com tudo no que você acredita. A gente nada só, mas, se todo mundo segue em frente, o cardume vai longe!

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