A história costuma valorizar a narrativa dos vencedores. É como se diante dos resultados, muitas nuances se dissolvessem. O retrato apressado da última eleição para governador da Paraíba pode muito bem servir como exemplo. Apesar de ter confirmado sua reeleição, João Azevêdo (PSB) amargou derrotas históricas, como ter sido o primeiro pessoense a perder em João Pessoa para um candidato de Campina Grande, o segundo colocado no pleito, Pedro Cunha Lima (PSDB). Na capital, Pedro teve 255.264 votos (58,11%), enquanto João alcançou 184.047 votos (41,89%).
A comunicação da campanha errou a partir do momento em que colocou o governador em cima do muro. A ala bolsonarista do governo não acreditava na vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e resolveu transformar João em um candidato sem cor, vestindo-o com uma desculpa de amarelo. A chapa majoritária chegou a ter a marca de Lula com a candidatura de Pollyanna Dutra (PSB) ao Senado, única a vestir vermelho na convenção do partido que homologou a chapa para a disputa eleitoral. Mas logo no início da campanha os estrategistas acharam por bem esconder Lula da chapa. A foto acima ilustra como começou a corrida à reeleição.
Para quem largou achando que venceria a campanha praticamente caminhando sozinho, João viu-se, diante da iminente derrota, obrigado a sucumbir às chantagens locais. Fez acordo de todo tipo nos municípios, flexibilizando a coerência e esfacelando sua chapa. A fragilidade política do governador ficou evidente quando ele não teve força para livrar-se do vexame que foi se rebaixar a todo tipo de composição. Em palanques constrangedores, tinha prefeito que votava em João, mas com Efraim Filho (União) para senador; teve até quem votasse em Ricardo e João. Pelo voto ele aceitava de tudo, e mesmo fazendo assim, ainda precisou do trabalho dos deputados, que garantiram sua vitória no interior do estado, apesar das derrotas acachapantes em João Pessoa e Campina Grande.
João nunca foi político. Chegou ao cargo de governador pela primeira vez em 2018 somente porque foi alçado por seu antecessor, Ricardo Coutinho, que evidentemente tornou-se desafeto, trocou de partido e hoje está isolado no PT. Ao término de seu segundo mandato, João vislumbra a eleição para o Senado, em 2026. Mas para não repetir 2022, que largou acreditando num caminho fácil e quase terminou o ano fora do jogo, o governador precisa ajustar o foco e mostrar que, finalmente, tem a força política que tanto prega.
As eleições municipais deste ano serão determinantes para o futuro político do governador João Azevêdo. Em muitos municípios, as alianças amarradas em 2022 para garantir a todo custo sua reeleição precisarão ser desfeitas. A tragédia no resultado em João Pessoa confirma o quanto João precisa manter a parceria com Cícero. Por outro lado, no interior, não cabem mais acordos que beneficiem adversários para causar prejuízo a quem de fato esteve ao seu lado. Se novamente aceitar de tudo, além de fraco, ganhará também a pecha de traidor. Ao se afastar do cargo para a campanha de 2026, João precisará de aliados fiéis. Mas fidelidade na política, vale lembrar, anda junto com reciprocidade, e a construção do arco de alianças para uma possível vitória certamente dependerá do que for firmado em 2024.