O deputado estadual Anísio Maia (PT) resolveu condenar Ricardo Coutinho (PSB) previamente. A argumentação que utilizava em defesa de Lula parece não servir para o ex-governador da Paraíba. Basta lembrar que o ex-presidente da República foi condenado e preso em decorrência da Operação Lava Jato, mas o deputado nunca deixou de defender a inocência do líder petista e alegava não haver justiça nos processos.
Curiosamente, a grandeza de Anísio parece estar relacionada ao nível de conveniência política e a seus interesses particulares. No caso de Ricardo Coutinho, o qual já defendeu em diversos momentos, seja como correligionário dentro do PT ou no Governo do Estado, o deputado estadual resolveu condená-lo antes mesmo da Justiça. Ao contrário de Lula, o ex-governador não chegou a ser julgado na Justiça Comum.
Não bastasse a presunção de inocência, a Operação Calvário, que investiga e acusa Ricardo Coutinho de corrupção, em muitos aspectos, assemelha-se aos métodos da Lava Jato. A espetacularização, coação de testemunhas, vazamentos seletivos de depoimentos, decisões questionáveis do juiz responsável e condenação prévia por meios de comunicação são algumas das situações que remeteriam às práticas condenadas por Anísio as quais o presidente Lula foi vítima.
O deputado, que se diz um ferrenho opositor ao governo Bolsonaro, ao ponto de fazer vídeos caricatos questionando o auxílio emergencial, em momento algum levanta a voz para exigir, no âmbito da Paraíba, programas de distribuição de renda para minimizar a situação de vulnerabilidade dos mais pobres. Também fica calado para cobrar uma posição do governo com relação às medidas sanitárias que são desrespeitadas por prefeitos aliados.
Anísio ocupou um papel dúbio nas últimas eleições, quando foi candidato a prefeito de João Pessoa, numa clara intenção de inviabilizar uma aliança com o PSB de Ricardo Coutinho e favorecer o candidato apoiado pelo governador João Azevêdo (Cidadania). O resultado eleitoral foi o pior do PT de João Pessoa em toda a sua história. A população deu uma resposta clara que a candidatura era de faz de conta.
Mas parece que Anísio ainda não terminou o serviço. O lavajatismo que ele dizia condenar quando atingia Lula agora serve como principal argumento na sua cruzada de fechar as portas do PT para Ricardo Coutinho. O esforço do parlamentar também inviabiliza a construção de uma alternativa progressista que agregue partidos de esquerda. Parece que após mais de quarenta anos de militância, Anísio Maia perdeu as referências ideológicas e hoje escolhe seus aliados pela conveniência eleitoral. Será complicado subir no palanque com Lula e escutar críticas ao ativismo judicial e ao lavajatismo. O perigo é ficar laranja de vergonha.
