O ex-governador Ricardo Coutinho nem precisa aparecer o tempo todo usando a camisa do Botafogo da Paraíba para que todos saibam que ele é torcedor do Belo. É torcedor antigo, presente, sofredor como todo apaixonado pelo clube. Até destoa dos demais políticos da capital, pois muitas vezes já esteve no Almeidão acompanhando o time de forma discreta, sem o costumeiro alarde com viés eleitoral feito por muitos políticos quando vão aos estádios.
Assim como todo bom torcedor do Alvinegro da Estrela Vermelha, Ricardo vibrou com a classificação do time para o quadrangular final da Série C do Campeonato Brasileiro no último sábado (25), contra o Santa Cruz, na Arena Pernambuco. O Belo está a um passo de subir para a Série B.
Ricardo poderia vibrar com a vitória, chorar, sofrer por antecipação diante da fase seguinte. Até se tivesse ficado calado teria sido mais negócio para o ex-socialista. Mas, não. Resolveu usar a vitória do time do coração para atacar seu ex-aliado e agora adversário, o governador João Azevêdo. Em seu perfil no Instagram, Ricardo acusou João de não apoiar o Botafogo e demais clubes paraibanos por conta do fim do programa Gol de Placa.
Ao usar Botafogo-PB para atacar João, Ricardo mira no populismo e acerta o próprio pé. Foi um erro feio para quem precisa limpar sua imagem diante de uma possível candidatura ao Senado no próximo ano, caso esteja elegível.
Em tom populista, Ricardo ataca o adversário, mas sem explicar que o incentivo por meio daquele programa foi suspenso exatamente por fraude, descoberta pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público da Paraíba, em decorrência da Operação Cartola. De acordo com reportagem publicada no Termômetro da Política, a “fraude ao antigo Gol de Placa acontecia com os clubes usando CPFs falsos, de mortos ou de pessoas que nunca pisaram na Paraíba para trocá-los por ingressos. Daí, o governo do Estado pagava pela ‘arrecadação’ das agremiações”.
Com a fraude, a dívida do Botafogo-PB junto ao Estado da Paraíba passou de R$ 3,2 milhões. Se mantivesse o apoio, o Governo seria conivente com a prática. Foi proposto um acordo de leniência com a participação também do Ministério Público da Paraíba. No fim das contas, João Azevêdo agiu corretamente e Ricardo só fez levantar a bola do adversário.
Vale lembrar também que a Operação Cartola não investigou só o esquema de trocas de notas fiscais que arranhou a imagem de Ricardo. E apesar de não ser parte na Ação Penal nº 0008300-72.2017.815.2002, a relação do ex-governador com os ex-dirigentes do clube afastados por suposto envolvimento na compra de árbitros para manipulação de resultados também desgastou Ricardo.
Com um teto de vidro tão baixo, Ricardo deveria deixar a paixão pelo futebol somente no campo afetivo.