Luísa é doutora em Estudos Literários e Feministas. Escreve e pesquisa a intersecção entre literatura e feminismo. luisagadelha[a]hotmail.com
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Bisbilhotices literárias
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Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre em Pequim, 1955 (Foto: Liu Dong’ao/Xinhua News Agency)

Surfando na onda anti-Zuckerberg/Musk/& demais masculinidades bilionárias, me mudo mais uma vez de morada virtual. Até o momento, essa rede social me parece mais simpática do que o Instagram – aqui, nem todo mundo quer mostrar que é rico, fitness & feliz. Zero ostentação (ou quase!). :)

E, pegando carona num assunto da moda, qual seja, as intrigas nos bastidores da alta e jovem cúpula literária brasileira, resolvi abrir minha newsletter (?) por aqui com um punhado de fofocas, causos e curiosidade literárias que catei nas minhas leituras por aí.

Não que eu considere a violência sofrida por Vanessa Bárbara algo menor, um fait divers, longe disso, mas acredito que o que tinha a ser dito sobre o que se passou já foi verbalizado, de várias formas, em diversas plataformas, por diferentes pessoas – e, ainda assim, acredito, também, que o efeito dessas reflexões todas e discussões e controvérsias não será palpável a curto prazo, não nas pessoas da nossa geração. Infelizmente.

Bem, vamos ao que interessa. Tive a ideia de escrever este texto quando, semanas atrás, li, por acaso, que uma importante obra de Bakhtin, teórico de leitura obrigatória em todo curso de Letras que se preze, não chegou aos nossos dias. Ele fumou o único exemplar de um de seus manuscritos, um estudo sobre a ficção alemã, durante a invasão alemã da Rússia, na Segunda Guerra Mundial. Usou as páginas dessa obra para enrolar seus cigarros, um a um, até o fim.

Por falar em Segunda Guerra Mundial, não posso deixar de mencionar como Sartre foi barrado na resistência francesa por ser vesgo. Sim, Sartre sofreu vesgofobia. Segundo integrantes ativistas da época, seria difícil um senhor portador de tal feiura e vesguice passar despercebido na clandestinidade.

De longe, as melhores anedotas envolvem a patota de Sartre, Beauvoir, Camus e seu entorno. Beauvoir relata em suas memórias que houve um período em que o jogo do ioiô era moda na capital francesa e “Sartre exercitava-se da manhã à noite com uma obstinação sombria”.

Por falar em Beauvoir, quem é Shakira e suas geleias? Em suas cartas a Nelson Algren, o fotógrafo estadunidense com quem teve um caso que durou anos e a quem dedicou seu romance – excelente, por sinal – Os Mandarins, Simone de Beauvoir reclama, ciumenta, de uma suposta affair de Algren que comeria seus doces de rum. Para piorar, a moça era loira falsa. No final, Beauvoir solta um: brinks, pode pegar geral (ou não).

Já Albert Camus, companheiro existencialista mais jovem do casal, morto precocemente em um acidente de carro – aliás, há rumores de que o acidente foi encomendado por Stalin, incomodado com as obstinadas críticas do filósofo ao regime implementado na União Soviética -, destacava-se por ser um exímio dançarino. Além disso, atuou como goleiro na seleção da Argélia, antes de migrar para a França.

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Marguerite Duras, outra escritora francesa excepcional, e meio que contemporânea dessa galera, iniciou um relacionamento, aos 66 anos, com um jovem leitor de seus livros, Yann Andréa, de apenas 28 anos, e homossexual. Era um relacionamento amoroso, mas sem sexo. Ficaram juntos até a morte de Duras, 16 anos depois.

Ainda na França, mas voltando um pouquinho no tempo, o misógino Jean-Jacques Rousseau admite, em suas Confissões, que gostava de exibir suas partes íntimas em uma esquina, e ali ficar à espera de mulheres que porventura passassem.

Agora, mudando um pouco de continente, passemos aos EUA: em seus diários, Sylvia Plath tece longos comentários sobre o prosaico e prazeroso ato de retirar melecas do nariz. Susan Sontag, por outro lado, chegou às vias de fato com o ex-marido, no momento da divisão dos bens, não pela guarda do filho, não por patrimônio nem por causa de um coração partido, e sim por conta de uma coleção de revistas francesas. Sim, revistas francesas.

É isso, gentem. :) Nossos ídolos são gente como a gente, às vezes até um pouco mais esquisitinhos. Como diz o meme: deixe o bichinho com as coisinhas dele.

Texto publicado originalmente no Substack.

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literatura