O prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima (PSD), deu mais um exemplo do seu alinhamento ao negacionismo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Em reunião no último domingo (7) com governador João Azevêdo (Cidadania), foi repassado ao gestor que o município de Campina Grande estava inserido na bandeira laranja em virtude do agravamento da pandemia de covid-19 na cidade, com aumento nos números de mortes, novas infecções e internações em decorrência da doença.
Imediatamente após a reunião, Bruno Cunha Lima abriu a sua artilharia para responsabilizar o Estado da Paraíba pelos pacientes que estavam sendo atendidos na cidade e que a inserção de Campina Grande na bandeira laranja seria um erro, além de questionar os dados apresentados, como se houvesse alguma manipulação.
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Essencial é a vida, não os interesses
Os dados apresentados pelo Governo da Paraíba são processados pela Secretaria de Estado da Saúde (SES). De acordo com a 20ª avaliação do Plano Novo Normal Paraíba (PNNPB), divulgada no dia anterior à reunião, 95% (211) dos municípios paraibanos estão em bandeira laranja. Dentre eles está Campina Grande. Dessa forma, é necessário adotar medidas restritivas mais duras na cidade para combater a proliferação do coronavírus.
Bruno Cunha Lima apresentou dados sobre a ocupação dos hospitais instalados em Campina e atribuiu aos pacientes vindos de outras cidades a superlotação. Na visão do prefeito, Campina Grande não poderia pagar pelo fato de os demais municípios não terem feito o ‘dever de casa’.
Pelo jeito o prefeito ainda não entendeu a natureza do Sistema Único de Saúde (SUS). Esquece que o sistema é universal, que Campina Grande pactua com dezenas de municípios a estrutura lá instalada e que recebe recursos em decorrência dessa condição de cidade-polo.
Na lógica de Bruno Cunha Lima, cabem a Campina os recursos, os hospitais, os leitos de UTI, a instalação de UPAs, a destinação de equipamentos, mas desde que os pacientes fiquem nos limites entre os municípios, à mercê da estrutura que pequenas cidades jamais teriam como dispor.
Imagine se essa lógica fosse seguida por João Pessoa. Teríamos quase um milhão de pessoas sem atendimento na saúde, visto que não são moradores da cidade. Felizmente, essa postura de negar a doença e se portar como se não tivesse nenhuma responsabilidade com o Sistema Único de Saúde é exclusiva do prefeito Bruno Cunha Lima. De modo geral, a solidariedade tem sido uma marca dos gestores nesse momento de catástrofe.
A tentativa de proclamar o ‘Principado de Campina Grande’ diz muito da falta de experiência que o prefeito Bruno Cunha Lima vem demonstrando. Acusar instituições sérias como a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que calcula o índice de transmissibilidade da covid-19 por meio do seu Departamento de Estatística, assim como a SES, que processa os dados, de não apresentar números confiáveis, é temerário. Porém, não é surpresa esse tipo de postura de quem faz questão de mostrar seu alinhamento ao presidente Bolsonaro e copia seu receituário no que diz respeito ao enfrentamento à pandemia.
Talvez seja hora de o prefeito Bruno escutar a ciência, que sempre foi uma marca da cidade, um celeiro de pesquisas que conta com o reconhecido Núcleo de Tecnologias Estratégicas em Saúde (Nutes), da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), e deixar de lado o populismo irresponsável. Essa postura pode levar muitas pessoas à morte e deixar milhares de paraibanos de cidades que não dispõem da estrutura que o SUS instalou em Campina Grande sem atendimento.
Antes de questionar dados que colocam Campina Grande na bandeira laranja, seria melhor Bruno Cunha Lima abandonar o negacionismo e agir com mais empatia.