Fernando Guedes Jr é turismólogo e historiador; mestre em História pela UFRN. Trabalha com magistério nas redes pública e privada da cidade de João Pessoa. Instagram: @afernandojunior
Fernando Guedes Jr é turismólogo e historiador; mestre em História pela UFRN. Trabalha com magistério nas redes pública e privada da cidade de João Pessoa. Instagram: @afernandojunior
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Capitão Cloroquina
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Após nosso país alcançar recordes de novos casos e de mortes por Covid-19, após verificarmos na prática o colapso do sistema de saúde no país, entramos em um debate sobre mantermos as medidas de restrição ou a necessidade de entrarmos em um lockdown. O presidente chegou mais uma vez a politizar, se vitimizando, levando seus partidários a defender uma suposta conspiração para sua queda: “Em todo local tá morrendo gente, aqui virou guerra contra o presidente”, afirmou Bolsonaro. É bem verdade que há pessoas morrendo por razão da covid em vários países, o que se questiona é a razão dos números baterem recordes no Brasil mesmo após um ano de enfrentamento à pandemia.

O que de fato mudou de março de 2020 para março de 2021 no Brasil? Isto inclusive já foi tema de outro texto que escrevi dias atrás: “2020 não acabou”. Supostamente a experiência de um ano de enfrentamento à doença nos deveria render conclusões sobre o que de fato funciona ou não e este é o ponto onde quero chegar. Me parece claro que o governo federal abriu mão de uma política ineficiente de combate à Covid-19, comprou remédios sem eficácia e não comprou vacinas. Através do presidente fez desdém de recomendações como uso de máscaras e do distanciamento social e continuou defendendo a cloroquina como tratamento para a doença.

Alguns têm tratado a figura do presidente como genocida. Penso que ele tenha optado por uma estratégia infeliz para lidar com a situação, a chamada imunização de rebanho. Para alcançar uma eventual imunidade de rebanho nesse cenário, seria preciso pedir às pessoas que saiam de casa e se exponham ao vírus no dia a dia. Existem projeções dizendo que 43% da população teria que se infectar com o vírus para atingir a imunidade de rebanho, há quem fale em 20%, outros em 80%. Na matemática, 86 milhões de brasileiros teriam a Covid-19, quais as consequências? De acordo com as evidências mais recentes, algo em torno de 17 milhões de internações em hospitais e 860 mil mortes.

O Brasil de hoje apresenta, em números arredondados e aproximados, 12 milhões de casos e 300 mil mortes. Se a imunidade de rebanho é plano do governo, faz sentido chamarmos de uma política genocida. Vamos aguardar o que vem pela frente, o cenário que se descortina é bastante preocupante. O presidente muda o discurso em sua conveniência: há momentos que diz que não tem responsabilidade nenhuma, relegando-a aos governadores e prefeitos; há momentos que chama pra si, quando apela ao STF contra o lockdown feito em algumas unidades federativas.

Bom mesmo era quando assistíamos aos desenhos animados e sabíamos que, quando chamávamos o Capitão, ele nos resolvia o problema. Tínhamos o Capitão Caverna, o Capitão América, o Capitão Planeta… aqui só sobrou o Capitão Cloroquina.

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