César acorda cedo, às 5 horas da manhã, para começar seu dia de rei. Sua primeira decisão está a 11 passos de sua cama, onde escolhe frutas e café antes de seu exercício diário. Come bem e registra tudo para seu eleitorado, pois reis também se alimentam.
Ao sair de casa não senta no banco do motorista. Reis não dirigem. Pede para estacionar a alguns metros de seu ponto de partida e corre pouco menos de 11.000 metros. Paradas programadas para alimentação nos quilômetros 1, 5 e 7, sempre com algumas câmeras por perto.
Às 8 da manhã, está na hora de trabalhar, não? Entretanto, começar sem antes passar no mercado da Torre e comer uma picado com cuzcuz não lhe parece certo. Esse ato é a cara do povo e vai trazer a identificação que tanto o falta. Sem máscara, com sorriso.
César tem que visitar o governador uma hora antes da melhor hora do dia, porém o congestionamento a sua frente e sua fome o deixam nervoso. Por que uma faixa inteira para ônibus? O ditado “quem tem fome tem pressa” lhe vem à cabeça. Reis não esperam. Construir mais ruas será prioridade.
A grande hora do dia é chegada! Feijão, arroz, bode, picado, um pouco de pimenta, suco de maracujá, tudo isso no meio do povo, no restaurante popular do parque. Ali é seu grande show! César come, lambe os dedos (não filmem isso, gula é pecado), sorri para câmeras, senta ao lado de um trabalhador informal. Um grande espetáculo! Homem do povo, César! Antes de partir, mais uma foto. “Vai chamar o cozinheiro, quero colocar a bata e a touca!”.
À tarde lhe ocorre uma leve azia. Sonrisal. Agenda vazia. Cabe um lanche? Ele decide comer um pastel e tomar um caldo de cana perto das indústrias. Lugares abertos e com boa iluminação sempre são de sua preferência. Alguns abraços e promessas, não precisa nada pagar. César, eles te amam!
O café da tarde é servido às 17:30. Um pão com bastante manteiga, um pingado, dois flashes e alguns apoiadores (sempre com tons claros de azul e alguns quilos de sobrepeso). Ele olha ao redor e não imagina como passou tanto tempo sem governar esse povo que tanto o admira. É uma lástima, o tempo perdido. Satisfeito e realizado, César volta à casa, para o grande desfecho de um dia ordinário.
Ao abrir a porta, depara-se com sua amada, sentada à mesa. Vinho, diversos queijos, Bavette aux dauphinois, talheres de prata, pano de mesa branco, duas funcionárias milimetricamente vestidas, esperando sua ordem. O prazer em seu rosto é indescritível. Aqui ele não é povo, é rei. Esse momento é seu! Não existe foco, câmeras e flashes. Sem aperto de mão ou roupas suadas para vestir. É o instante que mostra sua face mais verdadeira, pois, em todo e qualquer desenlace da história, César é e, sempre será, César.