Médica pela UFCG. Medicina Baseada em Evidência. Atendimento Humanizado. Defensora do SUS. Feminista. Instagram: @priscilawerton.
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Chico Ferreira por Priscila Werton
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Conheci o Chico em uma tarde chuvosa, ele e sua belíssima e adorável companheira, Camila. Cheguei muito inocente achando que ia conhecer o que seria apenas um ateliê, mal sabia eu a agradável surpresa que teria. O ateliê na verdade é um dos componentes de um conjunto espacial de casa-loja-café-museu, todo o ambiente é uma experiência. Fui recebida com prosa e cafezinho por duas pessoas absolutamente simpáticas que até então eu desconhecia completamente. A primeira coisa que o Chico me disse foi: odeio trabalhar. Achei estranho, sorri e só depois entendi que o que ele faz realmente não é um trabalho, é um dom mágico, uma integração completa do homem com a terra. O Chico é o barro. Ele coloca no espaço os seus pensamentos através da argila bruta. Argila que ora foi a natureza que criou, ora Chico foi lá e deu seu retoque, como a bio cerâmica, material criado por ele para suprir suas necessidades criativas.

O ambiente casa-loja-café-museu é encantador, o barulhinho da fonte, pássaros cantando e a perfeita sincronia com o som da chuva, daquele dia, quase me impediram de ir embora.

(Foto: Priscila Werton)
(Foto: Priscila Werton)
(Foto: Priscila Werton)
(Foto: Priscila Werton)

Perfeitamente autêntico e excêntrico, como todo bom artista, o Chico possui cabelos assanhados e está sempre formidavelmente sujo de barro, o que permite entender como aquilo não é um trabalho, o barro faz parte de quem ele é. Suas obras não podem ser encomendadas, afinal, tudo aquilo sai de sua mente brilhante, e como o barro do Chico poderia ser moldado por outros pensamentos senão os seus? O Chico trabalha sozinho, seu processo criativo individualista deixa as peças com sua cara e conta apenas com os pitacos gentis da Camila.

(Foto: Priscila Werton)

Ele não explica o significado das obras, a obra tá lá, a interpretação é de quem vê, trouxe aqui as obras que mais me pareceram peculiares:

A série de conchas clitóricas.
Quando questionado se a inspiração teria sido o clitoris, ele disse:
Espero que sim, clitoris é a origem, coisa boa.

(Foto: Priscila Werton)
(Foto: Priscila Werton)
(Foto: Priscila Werton)
(Foto: Priscila Werton)

Outra obra me chamou atenção pela boca absurdamente aberta, com um topetinho e o ar de arrogância, tudo isso aprisionado em um portão vermelho. Lembra alguém?

(Foto: Priscila Werton)
(Foto: Priscila Werton)

#forabolsonaro

A mulher quadripeito, que me remete ao peso da maternidade na vida da mulher que, quando mãe, deixa de viver sua feminilidade e se torna a provedora de leite, assim como uma fêmea animal de qualquer outra espécie. Ou ainda uma ama de leite, que amamenta os seus e os dos outros.

(Foto: Priscila Werton)
(Foto: Priscila Werton)

O sincretismo religioso da negra ou negro envolto pelo manto de nossa senhora.

(Foto: Priscila Werton)

E muitas muitas muitas cabeças metamorfóticas, que possuem formas em movimento, sugerindo que as nossas ideias são fluidas.

(Foto: Priscila Werton)
(Foto: Priscila Werton)
(Foto: Priscila Werton)
(Foto: Priscila Werton)

Essas peças não têm esses nomes, sequer têm nomes, essas são as minhas impressões da obra do Chico, um atrevimento.

Chico é um artista plástico natural de Catolé do Rocha, interior da Paraíba, trabalha a argila bruta há 37 anos, sendo também pintor. Mora em João Pessoa há 53 anos.

Saí de lá muda. Paralisada. Não esperava tamanha explosão mental naquela tarde.

Atualmente o lugar encontra-se aberto aos visitantes apenas por agendamento. Mas recomendo fortemente que quem mora em João Pessoa ou está de visita, conheça. Lá tem café, papo, política, cultura, alma e a Paraíba na sua essência. Um pedaço de mundo onde as angústias da pandemia não entraram.

Muito obrigada Chico e Camila pela excelente tarde.

Assinado uma fã.

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