Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
Jornalista, fotógrafo e consultor. Mestre em Computação, Comunicação e Artes pela UFPB. Escreve desde poemas a ensaios sobre política. É editor no Termômetro da Política e autor do livro infantil "O burrinho e a troca dos brinquedos". Twitter: @gesteira.
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‘Clima’ favorável ao impeachment de Bolsonaro está instalado
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Vista aérea do MASP, em São Paulo, nas manifestações de 29 de maio (Foto: Mídia Ninja)

A principal justificativa para que os pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que tramitam na Câmara dos Deputados não sejam levados adiante é a mesma que foi utilizada para dar prosseguimento ao processo que destituiu Dilma Rousseff (PT) do cargo de presidente sem que ela tivesse cometido crime de responsabilidade.

O “clima”, eles dizem.

Esta desculpa preconizada até bem pouco pela base de sustentação bolsonarista na Câmara e pelos deputados que atuam prioritariamente com emendas parlamentares servia para afastar a tese do impeachment, mesmo que, no caso de Jair Bolsonaro, existam indícios de crimes de responsabilidade.

Com Dilma não havia clima. Apesar da recessão financeira o país não estava nem perto da crise que enfrenta hoje. O desemprego com Dilma estava no patamar de um dígito, o país crescia pouco, mas crescia, e havia projeção de superar os problemas, mantendo os investimentos na educação, saúde, cultura e todos os programas de combate à desigualdade social.

Como não havia clima, criou-se o ‘clima’. Foi instaurado.

Uma animosidade instalada em diversas instâncias, espalhada pelo país, referendada pela imprensa e por agentes públicos que usavam seus cargos para fazer política. A presidente foi aviltada nas mais diversas formas. Desacreditaram Dilma em sua inteligência, fala, capacidade de gestão. Até a imagem de seu corpo foi atacada em protestos cretinos, com adesivos nos tanques de gasolina em que a maldade na forma de bombas de combustível penetrava.

Daí por diante, quando se questionava a legalidade do processo contra Dilma, diziam no Congresso que o clima era propício para o impeachment devido à insatisfação da nação. As ruas, incitadas pela imprensa, pediam a saída da presidente. As pessoas não percebiam que atuavam como marionetes de um jogo antidemocrático.

Até as últimas semanas dizia-se que contra Bolsonaro não havia clima para impeachment. Mesmo com uma crise econômica sem precedentes; mais de 14 milhões de desempregados, no maior percentual da série histórica; e a gestão da pandemia de covid-19 que encaminhou milhares de brasileiros à morte, tendo o presidente contra vacinas e a favor de tratamentos sem eficácia. Ainda assim “não havia clima”, eles diziam.

O jogo virou.

Com o avanço da CPI da Pandemia no Senado, ficou evidente que houve responsabilidade direta de Bolsonaro em milhares de mortes. O depoimento do presidente do Butantan foi devastador ao denunciar que o governo federal recusou comprar vacinas. Há provas disso.

Com desemprego, crise, mortes, má gestão e responsabilidade direta pela criminosa ineficiência no enfrentamento à pandemia, a popularidade do presidente tende a derreter.

Bolsonaro ainda é forte. Tem sua base de negacionistas e conservadores que não arredam o pé nem mesmo diante de um genocídio. Tem ainda a força da máquina pública nas mãos.

Por mais que parte da grande mídia tente esconder, neste 29 de maio o Brasil cruzou um caminho sem volta. As manifestações de ontem por todo o país foram o ponto de partida para a propagação generalizada da culpa do presidente Jair Bolsonaro pela atual situação do país: crise, mortes e falta de vacinas.

Os protestos furaram a bolha e até quem votou contra o PT em 2018 já começa a entender que a disputa deixou de ser entre partidos ou projetos políticos. O Brasil foi às ruas para derrubar Bolsonaro e exigir vacinas para todos. O embate agora é entre um projeto político que possa governar o país contra um governo que mata. O clima para o impeachment está devidamente instalado.

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