Reconhecer uma derrota é ato grandioso, mas para poucos. Hoje (2) o comunicador Nilvan Ferreira (PL) anunciou sua desistência da corrida eleitoral pela Prefeitura de João Pessoa nas eleições deste ano. Apesar de derrotado, não admite que perdeu. Fala em traição, perseguição, uma trama conspiratória digna de quem acredita em teorias das mais diversas. Ele deixa de falar como pré-candidato a prefeito da capital nesta sexta-feira, mas sua derrota já estava assimilada há algum tempo. Ao se dar conta de que poderia deixar de ser aquele que enfrentou o prefeito Cícero Lucena (PP) no segundo turno em 2020 para um terceiro ou quarto lugar em 2024, Nilvan abriu. O tom da conversa ficou feio, mas confirmou seu tamanho político.
A única chance de Nilvan crescer numa disputa contra Cícero seria acompanhar a polarização como candidato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele esticou a corda e reuniu aliados locais no partido, caso do deputado federal Cabo Gilberto e do estadual Walber Virgolino. Bolsonaro não cedeu, disse que seu candidato em João Pessoa seria o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e ali a derrota de Nilvan estava sacramentada.
Por mais que Queiroga não seja conhecido na cidade, o eleitor fiel ao ex-presidente Jair Bolsonaro não é burro. Com as cartas postas na mesa, a mão do maior líder da extrema direita no país sobre um candidato indica a posição do seu eleitorado. Nisso, Queiroga larga na disputa com ao menos 10%, algo considerável para um pleito com tantos candidatos como este se anuncia.
Nilvan sabe fazer conta e viu ali que já estava perdido. Mesmo que saísse candidato por outro partido, na oposição a Cícero ele teria que brigar pelos votos de Ruy Carneiro (Podemos) e Marcelo Queiroga, considerando que quem vota no candidato ou candidata do PT não iria para ele. Desistiu como estava escrito, mas se fez de vítima. A verdade é que Nilvan não perdeu por conta de perseguição, tampouco por ter desafiado grupos políticos. Perdeu porque é da política ganhar é perder.
Poderia ter saído maior, mantendo-se como aliado de Bolsonaro. Compondo com Queiroga, deixaria portas abertas para ser o candidato do ex-presidente em outra cidade ou adiar seu projeto político. Apequenou-se. E agora, após ter feito tanto por Bolsonaro, valeu de quê? Terá que recalcular a rota para reduzir os danos, mas o discurso de traição, conspiração, esse não engana ninguém.