O deputado estadual e pré-candidato a prefeito de João Pessoa pelo Partido dos Trabalhadores, Luciano Cartaxo, chamou para si uma crise de imagem absolutamente desnecessária nesta semana ao atacar o presidente do diretório estadual do partido, Jackson Macêdo, com acusações infundadas. Em notório ritmo de pré-campanha adotado há alguns meses, este não foi o primeiro erro estratégico do ex-prefeito da capital na tentativa de retomar o comando do Executivo municipal. Talvez tenha sido a cereja do bolo, ou mesmo o estopim que faltava para jogar o pouco que tinha pelos ares.
Não seria ele um bom candidato a prefeito? Sim, tem histórico político, dois mandatos no cargo que almeja recuperar. E justamente por considerar ter todas as condições de voltar a ser prefeito ele iniciou sua caminhada como pré-candidato. O que faltou a Luciano foi humildade para entender o processo.
Se estivesse filiado a qualquer outro partido por onde perambulou nos últimos anos, como PV ou PSD, ou mesmo um novo, estaria o ex-prefeito de João Pessoa seguindo à risca a cartilha para se lançar na disputa. Mas no PT, não. No partido do presidente da República a batida do bombo é diferente. O candidato a ser escolhido não recebe uma bênção do líder local de plantão, como funciona nas outras legendas. Há um processo de prévias partidárias, uma disputa eleitoral interna onde o mais votado será indicado.
Foi aí então que Luciano colocou seu carro na frente dos bois. Ele sabe que ao voltar ao PT traz consigo a mancha de quem um dia traiu o partido num momento crucial. Errar faz parte. O próprio presidente Lula, dia desses, em uma alusão a relacionamentos amorosos, disse que diante de um erro se desenrola pedindo desculpas. Em 2015, quando era prefeito de João Pessoa pelo PT, Luciano trocou o partido para se abraçar com a centro-direita paraibana dizendo que não seria responsabilizado pelos erros dos outros, se referindo ao PT nacional. Da história todos sabem o resultado, uma jornada de perseguição político-midiática-institucional que resultou no impeachment de uma presidente eleita democraticamente e, depois, na ascensão da extrema-direita.
Na volta ao PT, alguém viu um pedido de desculpas de Luciano Cartaxo a Dilma Rousseff ou aos seus colegas de partido? Eu nunca vi.
Fazendo de conta que nunca aconteceu nada a respeito do abandono ao PT, Luciano lança sua pré-candidatura e logo passa a se comportar como se já fosse o escolhido do partido. Alguns movimentos depõem contra ele, como sua presença na Marcha para Jesus, um evento com mais participantes ligados a grupos conservadores. Se fosse de fato o pré-candidato eleito, faria sentido participar de todos os eventos na cidade em busca de votos, mas ao lembrar que antes ele enfrentará um pleito interno, a ida à Marcha, dentre outras incursões do petista, soam como tiro no pé. Além de seu irmão Lucélio e alguns apoiadores, creio que poucos dos que votarão na prévia partidária estavam presentes na Marcha para Jesus.
Luciano mirou 2024 sem fazer a lição de casa. Ou fez, só que seguindo a cartilha do partido vizinho. Ao pular etapas e não focar na disputa interna, o ex-prefeito praticamente implodiu sua pré-candidatura. O momento antes da prévia partidária seria excelente para apresentar propostas; mostrar que não é mais um homem branco, hétero e privilegiado diante de tantos outros; e afastar a desconfiança de que não é de esquerda. Fez tudo ao contrário e focou apenas em marcar os passos da gestão do atual prefeito Cícero Lucena (PP).
Depois da crise com Jackson Macêdo criada pelo próprio Luciano, ficou difícil sustentar sua pré-candidatura.