Bióloga, mestre em Modelagem Computacional e Doutora em Ciência da Computação. Atualmente é professora quase associada da UFPB. Tem experiência na área de Bioinformática, Inteligência Artificial e suas aplicações. Além disso, coleciona livros, Legos, viagens, plantas, receitas e amigos.
Bióloga, mestre em Modelagem Computacional e Doutora em Ciência da Computação. Atualmente é professora quase associada da UFPB. Tem experiência na área de Bioinformática, Inteligência Artificial e suas aplicações. Além disso, coleciona livros, Legos, viagens, plantas, receitas e amigos.
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Como se parece um cientista?
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Ada Lovelace (1915-1952) foi a primeira programadora (Daguerreótipo: Antoine Claudet)

Qual imagem lhe vem à cabeça ao ouvir a palavra “cientista”?

Em uma atividade semestral na disciplina de metodologia científica com alunos dos primeiros períodos na universidade, peço que desenhem um cientista. Esse ano, dos 45 alunos, 36 desenharam homens e 5 fizeram desenhos de bonecos sem sexo — talvez pelo uso do artifício do boneco-palito. É uma sala majoritariamente masculina e as 4 mulheres desenhadas tiveram 3 mulheres as desenhando. Dos 45 desenhos, 32 eram cientistas com óculos, 24 com jaleco e olhem que, surpreendentemente, 31 eram descabelados e 4 estavam com a língua de fora. Parecia, no fim da atividade, que estávamos jogando “Eu sou…” e facilmente estaríamos com o nome de Einstein na ponta da língua.

É natural associarmos uma personalidade ou perfil a uma carreira, mas sempre caímos, com isso, no risco de usarmos estereótipos. E vamos ao conceito de estereótipo pelo dicionário Michaelis, que nos traz:

  1. Aquilo que se amolda a um padrão fixo ou geral.
  2. Esse padrão formado de ideias preconcebidas, resultado da falta de conhecimento geral sobre determinado assunto.
  3. Imagem, ideia que categoriza alguém ou algo com base apenas em falsas generalizações, expectativas e hábitos de julgamento. 

Associar a ciência a um padrão fixo ou geral masculino ignora o que é ciência e sua história, e todas as contribuições feitas por cientistas mulheres. Reafirma o desconhecimento, mesmo por universitários, sobre o assunto, aprendendo agora o que diferencia o conhecimento científico, do filosófico, religioso e comum, no caso, o seu método, que o torna capaz de ser replicável e validado por pares, buscando argumentos que o validam. Finalmente, em sua definição, fala-se da expectativa e hábito de julgamento. Nesse sentido, esperar do cientista o sexo masculino, descabelado, com óculos e jaleco, distancia as mulheres da carreira e o associa a um perfil muito peculiar, utilizado, às vezes, à exaustão, por filmes, histórias e desenhos animados. E mesmo criança, não deve ser comum querer ser, quando crescer, a pessoa descabelada, de óculos e cheia de peculiaridades. Ainda assim, vincula-se o conhecimento científico ao uso do jaleco. No entanto, vocês já viram cientistas da computação com essa peça de roupa? 

O mundo precisa entender o que é ciência, qual é a diferença do conhecimento científico para os demais conhecimentos, sua relevância, onde se faz ciência e quem a faz. O mundo precisa entender as conquistas científicas das mulheres, como a da atriz hollywoodiana, Hedy Lamarr, inventora de uma tecnologia que deu origem à conexão wireless; ou da afro-americana Marie Van Brittan Brown, que em 1969 fez a patente do primeiro sistema de vigilância por vídeo; e de uma das mais famosos, Ada Lovelace, filha do poeta Lord Byron, que foi a primeira programadora da história. 

Saber disso é se imaginar cientista, profissão que pode e deve ser ocupada por toda a diversidade possível de pessoas, que podem trazer soluções para os mais diversos problemas a partir de olhares e experiências tão únicas. Se você pensou em uma imagem igual à da maioria dos alunos, reflita sobre a importância da ciência e de que, diante da complexidade do mundo atual, é essencial que diferentes perfis participem da resolução dos problemas associados aos fenômenos das mais diferentes áreas de conhecimento.

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